O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, anunciou nesta terça-feira, 27, uma “pausa” das relações com a embaixada dos Estados Unidos após críticas sobre a reforma no judiciário mexicano. Ele frisou que a suspensão se limita ao posto na Cidade do México e ao Departamento de Estado, não representando um rompimento das relações diplomáticas com Washington.
A declaração ocorre poucos dias após o embaixador americano no país, Ken Salazar, afirmar que as mudanças no sistema judicial são um “grande risco para o funcionamento da democracia no México”.
“Espero que haja uma declaração deles (dos Estados Unidos) de que serão respeitosos com a independência do México”, sugeriu AMLO, na sua habitual coletiva de imprensa diária. “Enquanto isso não acontecer e eles continuarem com essa política, então há uma pausa com a embaixada.”
O líder mexicano destacou que a decisão “não é pessoal” e que teve “uma relação boa e construtiva” com Salazar. Anteriormente, ele já havia criticado “atos de desrespeito à nossa soberania” e “atitude intervencionista grosseira” por parte de Washington, chamando as declarações do embaixador de “infelizes e imprudentes”.
Críticas dos EUA
Na última sexta-feira, o americano disse a repórteres que “democracias não podem funcionar sem um poder judicial forte, independente e não corrupto” e que “qualquer reforma judicial precisa ter salvaguardas de que o poder judicial seja fortalecido, e não sujeito a condições políticas”.
Salazar defendeu que a reforma sugerida pelo governo do México “ajudaria cartéis e outros maus atores a tirar vantagem de juízes inexperientes com motivações políticas” e “criaria turbulência” na política e economia. Entre as propostas sugeridas na reforma está a exigência de que os juízes sejam eleitos, ideia que foi recebida com desconfiança por investidores e gerou uma série de protestos ao redor do país.
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Entenda a reforma
Na prática, bastaria ser formado em direito e ter alguns anos de experiência para ser eleito juiz pelo voto popular. Além disso, o número de ministros do Supremo seria diminuído de 11 pra 9. Eles também teriam o mandato reduzido em três anos, de 15 para 12. O teto salarial também seria alvo de alterações, com os magistrados recebendo no máximo R$ 30 mil, o mesmo salário de AMLO.
A reforma, encabeçada pelo líder mexicano, pode ser levada à votação pelo Congresso na semana que vem. O presidente argumenta que as mudanças são necessárias para barrar a corrupção e decisões que libertem traficantes de drogas.