A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o ministro do Interior, Horst Seehofer, chegaram a um acordo na noite desta segunda-feira (02) sobre a questão imigratória.
Na prática, o acerto garante a sobrevivência de Merkel no cargo, uma vez que Seehofer lidera a União Social-Cristã (CSU, na sigla em alemão), um dos membros da coalizão liderada por Merkel desde 2005.
O acordo não apenas prevê a permanência da CSU no governo como a própria manutenção de Seehofer no cargo, que estava ameaçada após um pedido de demissão no domingo (01).
“Este acordo muito sólido, que corresponde as minhas ideias, me permite seguir dirigindo o ministério federal do Interior”, declarou Seehofer.
Segundo Merkel, o acordo com a CSU foi feito em iguais bases com o acertado na semana passada entre líderes da União Europeia. O bloco decidiu ampliar a ajuda aos países costeiros, em especial a Itália, a distribuírem parte dos imigrantes resgatados no Mediterrâneo.
O acordo
O compromisso alcançado prevê que os solicitantes de asilo que cheguem à Alemanha e já estejam registrados em outros países da União Europeia (UE) sejam levados a “centros de trânsito” na fronteira e não distribuídos em locais de acolhida no país.
Enquanto se examinam seus casos, serão enviados aos países da UE de onde chegaram, com base nos acordos administrativos concluídos com os Estados envolvidos.
O ministro do Interior defendia, a princípio, a rejeição na fronteira de todos os imigrantes registrados em outro país da UE, o que Merkel negava para evitar um “efeito dominó” no continente.
‘Delírio do ego’
A frágil coalizão formada a duras penas em março, reunindo a direita bávara, os democrata-cristãos da CDU e os socialdemocratas, estava sob ameaça. Assim como a aliança CDU-CSU formada em 1949.
Nesta segunda-feira, a dirigente social democrata Andrea Nahles chegou a acusar o campo conservador, em geral, “de irresponsabilidade”, e a CSU, em particular, de “delírio de ego”.
Falando para seus correligionários no domingo, o ministro surpreendeu ao anunciar sua renúncia, pondo seu futuro político e o do governo na berlinda.
O que todas as pesquisas mostravam é que os alemães não apoiam a via do conflito escolhida pelo ministro. Segundo uma enquete do instituto Frosa para a RTL publicada hoje, 67% dos entrevistados consideram “irresponsável” a posição dos conservadores bávaros.
Merkel hesita
“Ninguém quer pôr o governo em xeque”, declarou o chefe do Executivo da Bavária, Markus Söder, admitindo que, “sinceramente, Horst nos surpreendeu” com sua ameaça de demissão.
Na verdade, o conflito de Horst com Merkel tem sido quase permanente desde sua polêmica decisão de 2015 de abrir a Alemanha a centenas de milhares de candidatos ao asilo.
Há três anos, ele não se cansa de denunciar essa escolha, e sua ofensiva parece mirar na própria chanceler, vista como um obstáculo pelos conservadores mais duros. Apesar da solução do desfecho, Angela Merkel sai no mínimo enfraquecida, menos de um ano depois de sua vitória nas legislativas.
Após quase 13 anos no poder, a chanceler é abertamente contestada em seu governo e em seu grupo político, combatida na Europa, em especial pelos vizinhos do leste e pela Áustria, e em conflito com o presidente americano, Donald Trump, em uma série de temas.
(Com Estadão Conteúdo e AFP)