O economista Javier Milei é o novo presidente da Argentina. Ele foi aclamado como vencedor pelo candidato peronista Sergio Massa, que reconheceu a derrota. “Me comuniquei com Milei para felicitar-lo e desejar boa sorte porque é o próximo presidente da Argentina”, disse o atual ministro da economia.
Com 98% das urnas apuradas a diferença entre os dois era de 11,49 pontos percentuais, com Milei somando 55,74% dos votos e Massa 44,25%.
A vitória de Milei retira os peronistas do poder, que venceram seis das últimas nove eleições que aconteceram no país, desde a redemocratização, em 1983.
O mapa eleitoral ainda será divulgado, mas o desempenho do candidato do La Libertad Avanza nas prévias e no primeiro turno sugerem que sua vitória decorre do fato de ter conseguido quebrar a unidade do peronismo em alguns redutos importantes, como os estados do norte e os arredores de Buenos Aires.
“Milei teve capacidade de entrar nos territórios peronista, com uma clivagem diferente. O partido do ex-presidente Maurício Macri, que até então rivalizava com o peronismo jamais conseguiu quebrar essa unidade”, explica Daniel Montoya, analista político e autor do livro Estados Unidos X China, Argentina e a nova guerra tecnológica.
Conservador nos costumes e ultraliberal na economia, Milei chega à Casa Rosada após defender propostas polêmicas, como a liberação do uso de armas pela população, a possibilidade de venda de órgãos humanos para transplante, o fim dos serviços públicos de saúde e educação, o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia.
Durante a campanha, “Peruca”, como é conhecido entre seus eleitores, defendeu um ajuste fiscal sem precedentes na história do país, em torno de 15% do Produto Interno Bruto, meta que pretende alcançar cortando radicalmente os gastos do governo. O plano foi apelidado de “motosserra”, ferramenta que ele utilizou em suas carreatas, para delírio de seus seguidores.
Milei também adotou um discurso antissistema, apelidando todos os politicos tradicionais de “casta” e afirmando que ia acabar com todos os seus privilégios. “Que se vão todos”, gritava em seus comícios, despertando principalmente a simpatia do público jovem, que pregava uma mudança radical no comando do país.
Para cativar essa fatia do eleitorado, o candidato do La Libertad Avanza utilizou de muitos influencers que os acompanhavam nos atos políticos e se vestiam como personagens de animes japoneses. A campanha nas redes sociais conquistou forte engajamento.
Sua personalidade controversa, no entanto, foi também seu maior ponto fraco. Durante a campanha, Milei se envolveu em polêmicas que deram munição ao seu opositor. Logo após o primeiro turno, ele concedeu uma entrevista em que chorou ao comentar o fato de oponentes o compararem a Hitler e fez comentários machistas em relação à Patricia Bullrich, a candidata do Juntos Por El Cambio, que ficou em terceiro lugar na disputa.
Já no último debate presidencial, ele fez elogios à Margareth Tacher, a ex-primeira ministra do Reino Unido que liderou a batalha pelas Ilhas Malvinas, na década de 1980, razão pela qual passou a ser vista como algoz dos argentinos.
As pisadas em cascas de banana deram munição à Massa, que apesar de estar à frente de um governo responsável por uma inflação que acumula 142% nos últimos doze meses, conseguiu fazer com que o foco da eleição ganhasse um tom plebiscitário em relação a seu oponente. As propostas de Milei de cortar gastos e acabar com subsídios foram fortemente explorados pelo peronista, que passou a divulgar os reajustes que as tarifas públicas, como água, luz e transporte, sofreriam caso o economista cumprisse a promessa de acabar com a política de subsídios do governo para os serviços essenciais.
Até o último momento, os votos foram disputados, mas pesou em favor de Milei a aliança que conseguiu fechar com parte da casta que tanto criticava. A centro-direita, na figura do ex-presidente, Maurício Macri, se aliou ao ultralibertário e colocou à sua disposição uma máquina eleitoral que conta com quase um terço do Congresos e 10 governadores nas províncias. Bullrich transferiu boa parte dos 21% dos votos que recebeu no primeiro turno, fazendo com que seu apoio desequilibrou a peleja na segunda etapa das eleições.
“É a união do leão com o gato”, diz Montoya, em referência ao fato de Milei abraçar o rei da selva como símbolo de seua campanha, e ao apelido que Macri recebeu de seus detratores, símbolo de esperteza e malandragem. Ningué, arrisca a dizer se Milei vai de fato implementar tudo o que prometeu, nem sequer se terá maioria no parlamento para isso. Certo é que uma nova era se inicia no país vizinho. “Esse minotauro argentino é quem vai governar o país nos próximos anos”, completa o analista político, se referendo ao acordo que deve dar as cartas e mudar a configuração do Congresso Nacional a partir de agora.