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Martin Luther King: a trajetória do homem que mudou os EUA para sempre

Há 50 anos era assassinado o pastor americano que fez da palavra sua arma contra o racismo e emocionou o mundo com seus discursos

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h57 - Publicado em 4 abr 2018, 07h59
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  • Um dos maiores nomes da história da luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1964, Martin Luther King foi assassinado há exatamente 50 anos.

    Sua morte ainda é cercada por muitas dúvidas. A família de King e muitos americanos acreditam que o assassinato em 4 de abril de 1968 foi parte de uma conspiração entre o governo americano, a máfia e a polícia. Porém, o fugitivo da Penitenciária Estadual do Missouri e supremacista branco James Earl Ray foi condenado pelo crime e morreu na prisão em 1998, aos 70 anos de idade.

    Martin Luther King tinha 39 anos ao ser morto na sacada de seu quarto no Lorraine Motel, em Memphis, no estado americano do Tennessee, com um tiro disparado de fora do prédio. O assassinato provocou protestos em mais de 100 cidades dos Estados Unidos, incluindo na capital, Washington. A violência dos conflitos entre manifestantes e policiais resultou em mais de 40 mortes, além de extensos danos à propriedade.

    Vida e ativismo

    Martin Luther King Jr. nasceu em Atlanta em 15 de janeiro de 1929. Tanto seu avô como seu pai eram pastores da igreja batista e King resolveu seguir seus passos na vida religiosa.

    Formou-se em sociologia na Morehouse College em 1948 e no Seminário Teológico Crozer em 1951. Posteriormente, fez doutorado na Universidade de Boston, onde conheceu sua esposa, Coretta Scott King, com quem teve quatro filhos.

    Viveu durante sua infância e adolescência o segregacionismo racial que imperava no Estado da Geórgia. Já no início de sua carreira, King começou a militar como ativista que lutava pela igualdade civil entre negros e brancos.

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    Conhecido por táticas de não-violência e desobediência civil e pela sua maravilhosa oratória, ele baseava seu ativismo também em suas crenças cristãs.

    “Martin Luther King forçava os Estados Unidos a viver de acordo com as promessas feitas nos documentos que fundaram nossa nação, na Constituição e na Declaração de Independência”, afirma Vincent Southerland, diretor executivo do Centro para Raça, Desigualdade e Lei da Universidade de Nova York. “Ele ajudou a acordar o país e a despertar a consciência americana quanto ao racismo. E ele o fez de uma maneira revolucionária.”

    Como pastor, serviu em uma igreja em Montgomery, no estado de Alabama, onde também se engajou na luta pela igualdade racial. Foi um dos líderes, em 1955, do boicote aos ônibus de Montgomery.

    Os protestos começaram após a prisão de Rosa Parks, mulher negra que se negou a ceder seu lugar a uma mulher branca no ônibus. O boicote durou 382 dias e causou déficits financeiros elevados no sistema de transporte público da cidade, em função do grande número de pessoas que deixaram de usar os ônibus.

    O boicote só acabou quando a Suprema Corte decidiu tornar ilegal a discriminação racial em transportes públicos. Durante o período, King foi preso, sofreu diversos atentados e sua casa foi bombardeada.

    Em 1957, King foi eleito presidente da Southern Christian Leadership Conference (SCLC), uma das principais organizações do movimento pelos direitos civis. Ele ocupou o cargo até ser assassinado em 1968 e, durante esse período, emergiu como o líder mais importante do movimento moderno pelos direitos civis nos Estados Unidos.

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    Carta de uma prisão em Birmingham

    Em 1963, liderou uma coalizão de numerosos grupos de direitos civis em uma campanha não violenta em Birmingham, Alabama, que na época era descrita como a cidade mais racista do país. A brutalidade da polícia local, ilustrada por imagens transmitidas pela televisão de jovens negros sendo agredidos por cachorros e mangueiras de água, despertaram a indignação nacional.

    Durante a campanha, King foi preso junto com outros ativistas por protestar sem permissão. Durante seu confinamento, escreveu uma carta em resposta a outros clérigos, que aconselhavam os negros americanos a lutarem por igualdade a partir dos tribunais e não por meio de manifestações. Transformada em livro, a obra defende a a estratégia da resistência não-violenta ao racismo e é uma das mais importantes de Luther King.

    ‘I have a dream’

    Durante a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, uma manifestação política de grandes proporções ocorrida na cidade na capital americana em 28 de agosto de 1963, King fez seu mais famoso discurso, com a frase que entraria para a história da oratória: “Eu tenho um sonho!” (I Have a Dream!)”.

    Em frente a uma plateia de mais de 200.000 pessoas, na escadaria do Lincoln Memorial, King defendeu o fim da marginalização dos negros, a liberdade e a igualdade.

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    A Marcha de Washington colocou mais pressão sobre a administração do então presidente John F. Kennedy para que as questões de direitos civis fossem levadas ao Congresso. Mas foi seu sucessor, Lyndon B. Johnson, quem conseguiu fazer com que o Ato de Direitos Civis de 1964 e o Ato de Direitos do Voto de 1965 fossem aprovados. As duas legislações são grandes marcos da luta contra racismo no país, pois proibiram práticas eleitorais discriminatórias e os sistemas estaduais de segregação racial.

    Após seu discurso, King foi nomeado o Homem do Ano de 1963 pela revista Time. E mais tarde, aos 35 anos, se tornou a pessoa mais nova até então a receber um Prêmio Nobel da Paz.

    Controvérsia e legado

    Após 1965, o ativista mudou seu foco para a luta pela justiça econômica e a paz internacional, que defendeu ao se manifestar fortemente contra a Guerra do Vietnã.

    King acabou se tornando uma figura considerada radical e polarizadora à época, sendo um oponente ferrenho da política externa americana da década de 1960. Seu posicionamento contrário à guerra do Vietnã foi visto por muitos como extremado, em um momento em que o apoio ao conflito ainda era relativamente elevado entre os americanos.

    Quando foi assassinado, King já estava havia décadas sob a constante vigilância do FBI, que o classificava como “perigoso para o país”. Sua defesa da não-violência como forma de promover mudanças também estava sendo desafiada por uma nova geração de ativistas negros mais impacientes.

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    Ainda assim, a herança de Martin Luther King para o movimento dos direitos civis e negros é inegável. Seus livros fazem parte de muitas leituras obrigatórias de universidades e escolas dos Estados Unidos e do mundo. Sua luta e sua coragem são celebradas anualmente nos Estados Unidos na terceira segunda-feira de janeiro em um feriado que leva seu nome. O Dia de Martin Luther King é feriado no país e conclama os cidadãos a prestarem serviços voluntários em suas comunidades.

    “Seu legado está refletido na forma como lidamos atualmente com a educação, no que fazemos em nosso ambiente de trabalho, nas políticas anti-discriminação que os Estados Unidos aplicam”, diz Alejandra Y. Castillo, CEO da YWCA USA, organização que luta contra o racismo e o machismo no país. “O trabalho dele nos colocou no caminho certo, mas é importante lembrar que ainda há um longo caminho pela frente.”

    A herança de King também aparece no movimento “Black Lives Matter” contra a violência policial — outros movimentos, como o que convocou recentemente a Marcha por Nossas Vidas, em que milhões de jovens foram às ruas para exigir leis mais duras para o uso de armas, também se inspiram nos ideais do ativista.

    Um dos participantes dessa marcha foi a neta de King, Yolanda Renee, de 9 anos, que lembrou as palavras mais famosas de seu avô à multidão. “Tenho um sonho de que já basta”, declarou a pequena Yolanda. “E de que este deve ser um mundo livre de armas, ponto”.

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