Milhares de manifestantes pró-democracia iluminaram duas colinas de Hong Kong nesta sexta-feira, 13, com tochas, lanternas e telefones celulares, aproveitando a abertura de tradicionais festividades da chegada do outono. Os participantes cantaram slogans a favor da democracia e um hino que se tornou viral nos últimos dias de protesto, o “Glória a Hong Kong”.
Milhares de militantes escalaram o monte Lion Rock, que tem vista para os arranha-céus de Kowloon, um dos lugares mais densamente povoados do planeta, para acenar com tochas e velas. Outros formaram uma longa cadeia humana no monte Pico, que oferece uma vista espetacular para a cidade e sua orla marítima.
“As festividades do outono simbolizam a família e o fato de seus membros estarem juntos. Trata-se, portanto, de expressar o espírito de união do povo de Hong Kong”, disse Yip, no Lion Rock.
Hong Kong está passando pela pior crise política desde seu retorno à China, em 1997, com manifestações e protestos quase diariamente. Em alguns casos, as manifestações extrapolaram em atos violentos e em choques com as forças de segurança. A ilha mantém certa autonomia em relação ao governo central de Pequim.
Mas a tramitação de um projeto de lei que permitira a extradição ao continente de opositores ao regime, no parlamento local, foi o estopim para as manifestações pró-democracia. O projeto foi retirado, mas ainda assim a insatisfação popular continua expressa nas ruas, em um movimento sem lideranças.
As manifestações que tomam as principais ruas de Hong Kong desde junho passado estão gerando prejuízos sobretudo para o setor turístico da ilha. Em agosto, houve queda de 40% no número de turistas, em relação ao mesmo período em 2018, disse o secretário local das Finanças, Paul Chan. A taxa de ocupação dos hotéis caiu pela metade, o que teve grande impacto nos pequenos estabelecimentos comerciais e no setor de alimentos.
A companhia aérea Cathay Pacific informou na quarta-feira 11 ter havido diminuição de 11,3% no fluxo passageiros em agosto. Este mês foi marcado por manifestações no aeroporto internacional de Hong Kong, que causaram o cancelamento de centenas voos.
Cada vez mais artistas anulam ou adiam suas apresentações na cidade. Foi o caso do cantor sul-coreano Kang Daniel, do grupo GOT7, e do sul-africano Trevor Noah, um dos comediantes e apresentadores mais conhecidos dos Estados Unidos. O Global Wellness Summit (GWS), um salão para profissionais da economia do bem-estar, será organizado em Singapura, em vez de Hong Kong.
Tênis e musical
O torneio internacional feminino de tênis de Hong Kong marcado para outubro foi adiado devido aos protestos anunciaram os organizadores nesta sexta-feira, 13. Uma nova data está em negociação com a Associação de Tênis Feminino (WTA), a entidade que governa a modalidade.
“Em vista da situação presente, a Associação de Tênis de Hong Kong e a WTA estão anunciando um adiamento do Aberto de Tênis de Hong Kong de 2019. O evento não acontecerá mais entre 5 e 13 de outubro”, disseram os organizadores em um comunicado.
Jogadoras que já tiveram posição destacada no ranking, como Venus Williams, Caroline Wozniacki e Angelique Kerber, participaram de edições anteriores do torneio, que é parte da série WTA International. Tradicionalmente, este torneio é disputado no Victoria Park, um dos principais pontos de concentração das multitudinárias manifestações.
“O Aberto é o maior evento de nosso calendário anual e um dos eventos esportivos internacionais mais populares da cidade, atraindo milhares de torcedores locais e viajantes do exterior a cada ano”, explicou o texto.
Na quinta-feira 12, os produtores do musical Matilda, adaptação do livro infantil de Roald Dahl, anunciaram seu cancelamento. O teatro onde seria realizada a peça fica perto da sede da polícia, que tem seus arredores tomados por confrontos entre policiais e manifestantes radicais.
“Infelizmente, estas 14 semanas de instabilidade em Hong Kong despencaram a venda de ingressos e, o que é mais importante, não podemos garantir a segurança e a tranquilidade da nossa companhia internacional, formada, em grande parte, por crianças”, declarou James Cundall, diretor da Lunchbox Theatrical Productions, produtora do espetáculo.
(Com AFP e Reuters)