Mais de 70.000 pessoas que lutavam pelo Exército da Rússia morreram no campo de batalha na Ucrânia desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, segundo levantamento da emissora britânica BBC e do site independente russo Mediazona, divulgado nesta sexta-feira, 20. Os dados também indicaram que, pela primeira vez, o número de vítimas entre combatentes voluntários disparou e representa o maior número de baixas para as Forças Armadas do país.
Os nomes de russos mortos na Ucrânia são divulgados diariamente, acompanhados de obituários e fotos dos funerais, por meio da imprensa e das redes sociais. A partir dessas informações, a BBC Rússia e o Mediazona, conhecidamente anti-Vladimir Putin, coletaram esses dados e os associaram a documentos, como relatórios oficiais do Kremlin.
Os veículos também entraram em contato com familiares para confirmar que os falecidos haviam sido identificados. Eles procuraram, ainda, túmulos em busca de nomes de soldados mortos, já que suas lápides acompanham bandeiras e coroas de flores enviadas pelo Ministério da Defesa russo.
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Mortes de voluntários
Ao todo, foram identificados 70.112 soldados russos mortos. Destes, 13.781 eram voluntários, ou 20% das fatalidades. Entre essa parcela das vítimas, o mais velho tinha 71 anos, mas a maioria (4.100) tinha entre 42 e 50 anos. Eles são seguidos por ex-prisioneiros (19%), grupo que anteriormente estava em primeiro lugar no pódio do número de baixas, e por cidadãos russos que foram convocados para o Exército (13%).
Desde outubro de 2023, o número de voluntários mortos é de, no mínimo, 100 por semana. Em uma delas, foram registradas mais de 310 vítimas. Militares da Rússia, sob condição de anonimato, disseram à BBC que o aumento das baixas nesse grupo é reflexo de sua disposição em ir para as áreas mais desafiadoras da linha de frente, como a região de Donetsk.
Um estudo da principal diretoria médica militar do Ministério da Defesa da Rússia indicou que 39% dos óbitos são resultado de ferimentos nos membros. Segundo a BBC, apenas 272 dos mortos não eram russos, incluindo 47 do Uzbequistão, 51 do Tajiquistão e 26 do Quirguistão. Há também relatos de recrutamentos em Cuba, Iraque, Iêmen e Sérvia.
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“Coerção e ameaças”
A maioria dos voluntários vem de cidades pequenas da Rússia, onde há escassez de empregos bem remunerados e estáveis, de acordo com a BBC. Eles teriam se juntado às tropas russas de maneira espontânea, embora alguns na república da Chechênia tenham denunciado que foram submetidos a “coerção e ameaça” para se alistarem.
Os salários nas Forças Armadas podem ser de cinco a sete vezes maiores do que os oferecidos em partes mais pobres do país. Além disso, são acompanhados por benefícios do governo, como creche gratuita e incentivos fiscais. Mas parte dos voluntários não havia entendido que os contratos não tinham data de término, o que os levou a pedir ajuda a jornalistas pró-Kremlin para darem baixa no serviço.