Maduro fortalece militares ao nomear quatro para ministérios
O general Manuel Quevedo foi indicado ministro do petróleo e presidente da petrolífera estatal PDVSA; outras 3 pastas serão comandadas por militares
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou neste domingo em seu programa dominical a nomeação do general Manuel Quevedo como novo presidente da petroleira estatal PDVSA, pilar da economia venezuelana e declarada em default devido a uma dívida milionária. O general da Guarda Nacional, que é conhecido pela repressão durante os protestos de 2014, também será o novo ministro do Petróleo.
Além de Quevedo, o capitão e ex-governador do estado de Táchira, José Vielma Mora, foi nomeado ministro do Comércio Exterior e Investimentos Internacionais; o general Ildemaro Villarroel recebeu o cargo de ministro de Habitação, antes ocupado por Quevedo; e o chefe da Missão Transporte, Carlos Osório, sancionado pelos Estados Unidos, foi designado ministro de Transporte em substituição ao general Juan García Toussaintt, afastado por problemas de saúde.
Pelo menos um terço do gabinete de Maduro é formado por oficiais da ativa ou da reserva. É um poder que, segundo analistas, transforma a Força Armada no principal apoio do presidente, com baixa popularidade e cujo mandato terminará em janeiro de 2019.
Hoje, os militares intervêm em diferentes setores, inclusive na produção e na distribuição de alimentos. Maduro também criou em 2016 a Companhia Anônima Militar de Indústrias Mineiras, Petrolíferas e de Gás (Camimpeg), que vincula à Força Armada a exploração de jazidas.
Crise profunda
Para Maduro, o maior desafio de Quevedo será “elevar a produção” petroleira, que se situa em 1,9 milhão de barris diários (mbd) contra 2,27 mbd em 2016. A mesma alcançou 3,2 mbd em 2008. A PDVSA, responsável por 96% da exportação do país, tem enfrentado uma profunda crise que o governo atribui a queda no preço do petróleo, enquanto especialistas culpam os altos gastos públicos da empresa.
A menor produção, combinada com a redução nos preços do petróleo, levou o país a enfrentar a escassez de alimentos básicos e remédios e uma inflação que o FMI projeta em mais de 2.300% para 2018.
A petrolífera e a Venezuela foram declaradas recentemente em default por um grupo de detentores de bônus e pelas agências de classificação de risco Standard & Poor’s e Fitch, devido ao atraso em pagamentos de capital e juros de títulos da dívida. Os bônus da empresa representam 30% de uma dívida externa venezuelana estimada em 150 bilhões de dólares, que Maduro tenta renegociar.
A Venezuela, país com as maiores reservas petroleiras do mundo, deve pagar até o fim do ano centenas de milhões de dólares de dívida soberana e da PDVSA, e outros 8 bilhões de dólares em 2018.
Casos de corrupção
Como chefe da Guarda Nacional em Caracas, o novo presidente da PDVSA foi chave no controle dos protestos contra Maduro, convocados em 2014. As manifestações deixaram 43 mortos e o líder opositor Leopoldo López, atualmente em prisão domiciliar, foi condenado a quase 14 anos de prisão, acusado de instigar a violência. Na época, a oposição responsabilizou pela violência militares e policiais, tal como ocorreu entre abril e julho deste ano, com manifestações que deixaram 125 mortos.
Esta, no entanto, não é a primeira vez que um militar chefia a petrolífera. O general Guaicaipuro Lameda o fez entre outubro de 2000 e fevereiro de 2002, vindo posteriormente a se tornar opositor de Chávez. Além dos problemas financeiros e estruturais, a PDVSA, que chegou a aparecer entre as maiores petroleiras do mundo, sofre com o flagelo da corrupção. Vários casos são investigados pela justiça.
Há uma semana, autoridades detiveram seis altos diretores da Citgo, sua filial nos Estados Unidos, acusados de assinar contratos “leoninos” para refinanciar a dívida por 4 bilhões de dólares, colocando a subsidiária como garantia. Segundo o governo, no meio havia uma propina de 50 milhões de dólares.
Washington pediu para ter acesso a cinco dos capturados com nacionalidade venezuelana e americana, revelou Maduro neste domingo.
(Com AFP)