Os doze jurados encarregados de definir o destino do ex-presidente americano Donald Trump entraram, nesta quinta-feira, 30, no segundo dia de deliberação em um tribunal de Nova York, nos Estados Unidos. Numa discussão, que pode demorar semanas, ou poucas horas, o júri vai estatuir se o republicano é ou não culpado no âmbito do caso que o acusa de realizar pagamentos a uma ex-atriz pornô, Stormy Daniels, para encobrir um affair, como parte de um esquema ilegal para não se queimar durante a corrida presidencial de 2016.
Enquanto decorriam as deliberações, o júri enviou uma nota ao tribunal solicitando informações relacionadas ao depoimento do do ex-advogado de Trump, Michael Cohen, que ficou encarregado de fazer as transferências de dinheiro a Daniels. Os jurados também pediram para ouvir novamente as instruções do juiz responsável pelo caso, Juan Merchan, que enfatizou que a defesa do ex-presidente não era obrigada a provar a inocência de seu cliente – o ônus da prova recai sobre a acusação.
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Merchan também lembrou aos jurados para deixarem de lado quaisquer preconceitos pessoais, algo ainda mais significativo em um caso que envolve uma das figuras mais famosas do país. O processo de escolha do júri, inclusive, foi marcado por dificuldades porque ora a defesa acusava certas pessoas de serem alinhadas demais com o Partido Democrata, do presidente Joe Biden, para julgar Trump com imparcialidade, ora a acusação descartava candidatos por os considerarem republicanos demais.
Relembre o caso
A ação no tribunal está ligada à descoberta de um suposto esquema ilegal durante a campanha presidencial de 2016, que levou Trump à Casa Branca, cujo objetivo seria blindar o republicano de “má publicidade” e preservar sua imagem perante o eleitorado. Um dos elementos desse esquema seria evitar que viessem à tona informações sobre um encontro sexual entre o bilionário e a atriz pornô Stormy Daniels, que havia ocorrido dez anos antes, logo após ele ter se casado com Melania.
Segundo os promotores, Trump e sua equipe decidiram oferecer US$ 130 mil (cerca de R$ 460 mil na cotação da época) a Daniels para comprar seu silêncio sobre o affair, um acordo fechado apenas doze dias antes da eleição. Porém, ele fez isso por meio de um “aviãozinho” – seu fiel advogado e espécie de “faz-tudo”, Michael Cohen, que transferiu o dinheiro por meio de uma empresa de fachada.
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Tragédia evitada, eleição vencida. Já como presidente, Trump restituiu Cohen com uma série de cheques mensais, que vinham ou de um fundo de ativos da sua empresa, a Trump Organization, ou de sua própria conta bancária. Foram 11 cheques no total, nove dos quais o próprio republicano assinou.
Não haveria nada de ilegal até aí. A questão é que, em registros comerciais, os gastos em cheques foram assinalados enganosamente como “despesas legais” com o advogado, Cohen. Por isso, no ano passado, o republicano foi indiciado com 34 acusações de falsificação de registros comerciais, para supostamente encobrir um pagamento.
Segundo os promotores, a empresa do então presidente, a Trump Organization, processou cheques “disfarçados como um pagamento por serviços jurídicos prestados segundo um acordo de retenção inexistente”. Enquanto isso, ainda de acordo com a acusação, Trump tinha “a intenção de fraudar, de cometer crime, e ajudar a ocultar a prática do mesmo”.
Outros casos
Contando com o processo do suborno secreto, Trump enfrenta 92 acusações criminais no total, em quatro investigações diferentes:
- O ex-presidente foi indiciado por reter documentos secretos da Casa Branca após deixar a Presidência e exibi-los a amigos em seu clube de campo, incluindo textos contendo informações ultrassecretas sobre o arsenal nuclear dos Estados Unidos.
- Numa ação movida pelo Departamento de Estado, ou seja, de âmbito federal, Trump é acusado de tentar anular sua derrota eleitoral de 2020, um esforço que culminou na invasão do Capitólio americano, em 6 de janeiro de 2021, por seus apoiadores, a fim de impedir o Congresso de certificar a vitória de Joe Biden.
- Uma ação movida pelo estado da Geórgia também está relacionada à tentativa de subversão do resultado das eleições
Fora isso, Trump perdeu dois processos civis recentemente – um por difamar a escritora E. Jean Carroll, alegando que ela mentiu quando o acusou de tê-la estuprado, e outro por fraude, aumentando artificialmente o valor de suas propriedades em Nova York para obter negócios melhores com seguradoras e credores. Até agora, ele deve mais de 500 milhões de dólares por essas derrotas.