Em entrevista à emissora americana CNN. o ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, afirmou nesta quarta-feira, 10, estar no meio de negociações para abrir o primeiro escritório ligado à Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) no país e no continente asiático. De acordo com ele, a razão para esta atitude é pelo fato da invasão russa à Ucrânia ter tornado o mundo menos estável.
“Já estamos em discussões, mas nenhum detalhe (foi) finalizado ainda”, disse Hayashi uma semana antes da cúpula do Grupo dos Sete (G7), organizada neste ano em Hiroshima, na qual o presidente da Ucrânia foi convidado a participar. O governo brasileiro também está entre os oito países convidados, e o presidente Lula confirmou que irá viajar ao Japão para comparecer ao evento.
A Otan já tem escritórios semelhantes em outros lugares, como a Ucrânia e Viena. No entanto, ter um no Japão permitiria discussões mais aprofundadas sobre desafios geopolíticos, tecnologias emergentes e ameaças cibernéticas aos membros da aliança, sobretudo os parceiros regionais do Japão, como Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.
Segundo Hayashi, a guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro do ano passado, gerou diversas repercussões para além das fronteiras da Europa, o que forçou o Japão a repensar a segurança regional. O ministro ainda comentou que a situação afeta diretamente o Pacífico, tornando a cooperação entre o Leste Asiático e a Otan “cada vez mais importante”.
O ministro também destacou que o ambiente de segurança nacional está mais “severo e complexo” com o aumento da agressão russa. Tóquio tem se visto frente uma Coreia do Norte com armas nucleares e uma China em ascensão, que tem aumentado suas forças navais e aéreas enquanto reivindica as Ilhas de Senkaku, uma área desabitada e controlada pelos japoneses. Em resposta, o Japão anunciou planos de seu maior reforço militar desde a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, apesar das crescentes tensões regionais, Hayashi disse que a possível abertura do escritório não visa países específicos. Segundo ele, o Japão e outros países precisam cooperar com a China em questões maiores, como as mudanças climáticas e a pandemia de Covid-19, acrescentando que Tóquio deseja um “relacionamento construtivo e estável” com Pequim.
Anteriormente, a China já havia alertado contra a expansão da Otan para a Ásia e respondeu com raiva a relatos anteriores sobre o possível escritório no Japão.
“A Ásia é uma terra promissora para a cooperação e um foco para o desenvolvimento pacífico. Não deve ser uma plataforma para aqueles que buscam lutas geopolíticas”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, na semana passada. “O impulso e a interferência da OTAN em direção ao leste nos assuntos da Ásia-Pacífico definitivamente minarão a paz e a estabilidade regionais”.