Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia que se tornou um ícone progressista global, fez um anúncio surpresa nesta quinta-feira, 19, dizendo, para o espanto de neozelandeses e todo o mundo, que deixará o cargo em 7 de fevereiro. Apesar de sua contínua queda de popularidade em casa, a notícia foi recebida com choque.
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“Acredito que liderar um país é o trabalho mais privilegiado que alguém poderia ter, mas também um dos mais desafiadores”, disse Ardern em um discurso na cidade neozelandesa de Napier, onde seu Partido Trabalhista realizava um retiro de verão. “Você não pode e não deve fazer isso a menos que tenha um tanque cheio e um pouco de reserva para esses desafios inesperados.”
Ela acrescentou: “Estes foram os cinco anos e meio mais gratificantes da minha vida. Estou saindo porque, com um trabalho tão privilegiado, vem uma grande responsabilidade”.
Os parlamentares trabalhistas devem eleger um novo líder do partido – e do país – em três dias, disse Ardern.
Ardern, 42, tornou-se primeira-ministra em 2017 e obteve uma vitória histórica na reeleição em 2020, em grande parte devido à resposta da Nova Zelândia à Covid-19, que permitiu que a população vivesse uma vida quase normal durante grande parte da pandemia. Mas, desde então, a popularidade de seu partido caiu acentuadamente nas pesquisas em meio a problemas econômicos e alguns casos de crimes violentos.
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Logo após sua inesperada ascensão ao poder como a primeira-ministra mais jovem da Nova Zelândia em 150 anos, Ardern se tornou uma espécie de celebridade internacional. Enquanto estava no cargo, ela teve uma filha e ficou famosa a cena quando levou o bebê ao plenário das Nações Unidas. Ela se tornou a garota propaganda do progressismo – e uma alternativa bem-vinda aos políticos populistas de direita como o então presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, e até Jair Bolsonaro no Brasil.
Em 2019, sua resposta ao massacre de 51 pessoas em duas mesquitas em Christchurch, por um atirador anti-muçulmano e anti-imigrante, solidificou sua imagem como uma heroína da esquerda global.
“Representamos diversidade, gentileza, compaixão. Uma casa para aqueles que compartilham nossos valores. Refúgio para quem precisa”, disse ela na época sobre a Nova Zelândia. Em uma semana, Ardern impôs restrições temporárias à compra de armas, seguidas pela aprovação de uma lei que proibiu a maioria das armas semiautomáticas.
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A primeira-ministra disse que havia informado os membros do partido nesta quinta-feira sobre sua decisão de renunciar. Ela continuará no Parlamento, como representante eleita pela cidade de Auckland, até abril, a fim de evitar auma eleição suplementar.
O Partido Trabalhista têm enfrentado grandes desafios políticos antes das eleições de 14 de outubro. Por quase um ano, o partido ficou atrás do Partido Nacional, de centro-direita, liderado por Christopher Luxon, ex-empresário da indústria de aviação. Em dezembro, o apoio à legenda de Ardern rondava os 33%, contra 38% do Partido Nacional.
Ainda assim, a líder neozelandesa permaneceu pessoalmente popular com o eleitorado. Em diversas pesquisas, ela regularmente supera Luxon como a “primeira-ministra preferida” da maioria da população.
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No mês passado, Luxon disse que as pesquisas mostram que os neozelandeses acreditam que o país está indo na “direção errada”. “Eles podem ver que o governo simplesmente não está fazendo as coisas”, afirmou.
A principal preocupação dos eleitores, como em muitas outras nações, é a economia. Os preços das casas na Nova Zelândia, que dispararam na última década, caíram 12% em 2022. Pessoas que pediram empréstimos correm alto risco de patrimônio líquido negativo, pois estão equilibrando um alto custo de vida e inflação crescente com as catástrofes gêmeas de queda dos preços das casas e aumento das taxas de juros.
A percepção de aumento de crimes violentos, incluindo incidentes altamente divulgados em que funcionários de lojas foram atacados – e, em um caso, mortos – também contribui para um sentimento de insatisfação.
Como Ardern é a principal política do Partido Trabalhista, fica claro que a decisão de renunciar é pessoal, e não estratégica sobre o que seria melhor para a legenda, dizem especialistas. Durante o discurso de renúncia, ela disse que seu parceiro, o apresentador de televisão Clarke Gayford, e sua filha de 5 anos, Neve, foram “os que mais se sacrificaram de todos nós”, prometendo à filha estar presente quando ela começasse a escola e, ao marido, finalmente casarem-se.
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Ao renunciar próximo às eleições gerais, Ardern imitou um antecessor recente. John Key, do Partido Nacional, deixou o cargo em 2016 para que fosse ocupado por seu vice, Bill English.
Só que não há nenhum sucessor óbvio para a premiê-celebridade. Grant Robertson, vice-líder do Partido Trabalhista, já disse que não pretende substituí-la.
Para liderar o Partido Trabalhista, o candidato vencedor deve ter o apoio de pelo menos dois terços de seus parlamentares, uma exigência que aumenta a perspectiva de um vácuo de poder, disputas internas prolongadas e, pelo menos aos olhos dos eleitores, um recém-chegado para comandar o país.