O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, congelou fundos para cidades árabes e programas de educação palestinos em Jerusalém Oriental, citando crimes e temores de segurança. Em resposta, opositores do governo acusaram o ministro de racismo e defenderam os diretos dos cidadãos árabes.
Membro-chave do governo nacionalista do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Smotrich disse que alguns dos fundos orçamentários destinados aos conselhos locais árabes eram uma recompensa política da administração anterior que poderia acabar nas mãos de “criminosos e terroristas”. O ministro do Interior, Moshe Arbel, publicou uma carta direcionada a Smotrich, o pressionando 200 milhões de shekels (R$ 264 milhões) dos fundos em jogo destinados à administração e outros 100 milhões (R$ 132 milhões) para fins de desenvolvimento econômico.
“As prioridades de nosso governo nacional são diferentes do governo de esquerda anterior e não devemos nos desculpar por isso”, disse Smotrich, chefe do partido pró-colonos cujos comentários sobre os palestinos já atraíram condenação internacional.
+ EUA classificam possível ataque de colonos israelenses como terrorismo
O legislador Mansour Abbas, que chefia a Lista Árabe Unida, e o líder da oposição Yair Lapid criticaram o congelamento e acusaram Smotrich de racismo. Segundo Lapid, eles estão “abusando de cidadãos árabes simplesmente porque são árabes”.
“Os cidadãos árabes têm direito a esses fundos, que visam fechar as lacunas entre as comunidades árabe e judaica”, disse Abbas.
Cidadãos árabes, em maioria descendentes de palestinos que permaneceram no novo estado de Israel após a guerra de 1948, representam cerca de um quinto da população do país. A minoria árabe enfrenta há décadas disparidades sociais e econômicas em comparação com os cidadãos judeus, incluindo altas taxas de pobreza, cidades superlotadas sem infraestrutura e escolas mal financiadas.
Designados em 2022 para 67 conselhos árabes, os fundos extras são o reconhecimento do estado de anos de alocação insuficiente de recursos para localidades árabes, disse Ameer Bisharat, chefe do Comitê Nacional de Conselhos Árabes Locais em Israel. Agora, a preocupação de analistas é que o congelamento pode significar que os municípios não podem fornecer serviços básicos, como coleta de lixo ou reabrir escolas após as férias de verão.
+ Democracia ou rebelião: os protestos em meio à grave crise em Israel
Além disso, Smotrich também disse que 200 milhões de shekels (R$ 264 milhões) separados para encorajar estudos acadêmicos entre os palestinos de Jerusalém Oriental também seriam congelados. Segundo ele, essa medida ficaria em vigor até que o que ele descreveu como “atividade islâmica extremista” no campus fosse erradicada.
+ Presidente de Israel pede calma em meio a convocações de novos protestos
No fim de semana, o governo dos Estados Unidos classificou o assassinato de um palestino por supostos colonos judeus como terrorismo, em linguagem afiada que parecia refletir a frustração do país com o aumento da violência na Cisjordânia ocupado sob o governo mais à direita da história de Israel.
Na sexta-feira 4, a polícia israelense deteve dois colonos perto da vila de Burqa, que segundo palestinos, faziam parte de um grupo que atirou pedras, incendiou carros e, ao ser confrontado por moradores, matou a tiros um jovem de 19 anos.
A Cisjordânia é povoada por diversos colonos radicais, que frequentemente vandalizam as terras e propriedades palestinas. A Palestina reivindica o território da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e da Faixa de Gaza, áreas capturadas por Israel na guerra de 1967, para a criação de um futuro Estado. Porém, cerca de 700 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia e no leste de Jerusalém em assentamentos ilegais, o que a comunidade internacional considera um obstáculo para a paz na região.