O governo de Israel desenhou uma nova proposta de acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, que incluiria o fim permanente da guerra contra o grupo terrorista palestino Hamas, informou a emissora pública Kan nesta quinta-feira, 19. O jornal israelense The Times of Israel confirmou o plano, com base em depoimento anônimo de uma fonte próxima ao assunto.
De acordo com a mídia local, o principal negociador de Israel, Gal Hirsch, apresentou o plano aos Estados Unidos, que devem repassá-lo a oficiais árabes – provavelmente, mediadores do Catar e do Egito. Segundo a fonte do Times of Israel, o acordo vai pôr um ponto final à guerra, que completará um ano no mês que vem, se as condições forem atendidas.
O que o plano propõe
A emissora Kan afirmou que a estrutura do acordo proposto pelo governo israelense também veria todos os reféns sequestrados do país pelo Hamas, e mantidos em cativeiro em Gaza desde o início da guerra, libertados de uma só vez. Ou seja, diferente da estrutura de fases do último e único cessar-fogo, em novembro do ano passado, que durou uma semana. Acredita-se que 101 pessoas estejam sob o poder do grupo.
A proposta inclui ainda um salvo-conduto para o líder do Hamas, Yahya Sinwar, e seus associados deixarem o enclave palestino em segurança. O plano também veria a libertação de palestinos presos em Israel, a desmilitarização de Gaza e um novo sistema de governança para o território. Nenhum outro detalhe veio à tona, por enquanto.
Pressão sobre o governo
O Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos, um grupo formado logo após os ataques do Hamas contra comunidades do sul israelense que viram mais de 250 pessoas sequestradas, pediu que o governo expresse apoio total à proposta.
“Nós comemoramos o novo esboço do (primeiro-ministro Benjamin) Netanyahu: um acordo único e o fim dos combates”, disse o fórum em uma declaração. “Um acordo único que inclua (a libertação de) todos os 101 reféns é o desejo de todos os cidadãos israelenses e das famílias dos reféns. A proposta fortalece a segurança em Israel e torna possível chegar a um acordo regional abrangente.”
A declaração acrescentou que a proposta já foi “apresentada em Washington diante de líderes de países árabes e recebeu uma resposta positiva”.
Guinada de olho no Líbano
Há meses, Netanyahu está sob pressão de manifestantes que o acusam de não ter planos para pôr fim à operação antiterrorista em Gaza. Uma pesquisa de opinião divulgada em julho revelou que 72% dos israelenses desejam sua renúncia pelas falhas na segurança durante a invasão do grupo palestino Hamas em outubro, que resultou na morte de 1.200 pessoas e mais de 5 mil feridos.
Entrincheirado na promessa de “eliminar totalmente o Hamas”, e dependente do apoio dos ultrarradicais de sua coalizão de governo (o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, declarou recentemente que matar de fome os 2 milhões de palestinos em Gaza pode ser “justificado e moral”), Netanyahu até então parecia decidido a agir por conta própria, sem prestar contas a países aliados. Caso a proposta se concretize, será uma guinada de 180 graus – possivelmente, devido ao foco renovado na milícia libanesa Hezbollah, aliada do Irã.
Depois de uma sequência de explosões de pagers e walkie-talkies usados pelos combatentes radicais, que matou ao menos 20 pessoas e deixou mais de 3 mil feridos, pela qual Israel foi responsabilizada embora não tenha assumido a autoria da sabotagem, aumentaram os temores de uma guerra total entre o país e o grupo não-estatal mais bem armado do mundo. A tensão não diminuiu no Oriente Médio.