O que parecia improvável aconteceu: pela primeira vez em doze anos, Israel tem um governo sem a presença de Benjamin Netanyahu, o truculento e habilidoso líder da direita enfim apeado do poder. Mas a comemoração dos dois líderes partidários vitoriosos — Yair Lapid, de centro (à esq.), e Naftali Bennett, da direita radical — encobre a fragilidade do governo de coalizão aprovado no Parlamento por maioria de um único voto e composto de partidos díspares unidos pelo objetivo comum de destronar Bibi. Lapid foi o articulador da aliança, mas, pelo rodízio de comando estabelecido, Bennett, o milionário do setor de tecnologia cuja minúscula legenda virou fiel da balança governista, será primeiro-ministro nos próximos dois anos. Logo no segundo dia de governo, uma marcha de judeus nacionalistas — autorizada pela Segurança Pública de Netanyahu e confirmada pela de Bennett — atravessou seções árabes de Jerusalém Oriental, reavivando ressentimentos que, no mês passado, desembocaram no pior confronto entre israelenses e palestinos em seis anos. Reagindo à marcha, militantes do Hamas lançaram balões incendiários sobre o sul de Israel, que despachou caças para bombardear alvos na Faixa de Gaza. Na volátil corda bamba do Oriente Médio, Lapid, que assumiu o Ministério das Relações Exteriores enquanto aguarda sua vez na primeira-cadeira, e Bennett terão muito trabalho para manter o equilíbrio e evitar seu maior pesadelo: uma nova eleição (a quarta em dois anos) e o eventual retorno do incansável Netanyahu.
Publicado em VEJA de 23 de junho de 2021, edição nº 2743