Três anos depois de surpreender e aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a Irlanda vota nesta sexta-feira, 25, um referendo sobre a liberalização do aborto. Com forte influência da Igreja Católica, o país tem as leis mais restritivas da Europa para a prática.
Os eleitores irão decidir se revogam a oitava emenda constitucional, que proíbe o aborto em todos os casos, exceto quando há perigo para a vida da mãe. Interromper uma gravidez no país pode resultar em 14 anos de prisão, mesmo em caso de estupro ou incesto.
Os colégios eleitorais abriram às 7h (3h em Brasília) e fecharão às 22h (18h em Brasília). O resultado deve ser conhecido no sábado (26) à noite.
As últimas pesquisas davam uma leve vantagem para os partidários do “sim”, mas essa margem aparece menor em algumas pesquisas. Além disso, um em cada seis pessoas permanece indecisa. Mais de 118.000 cidadãos solicitaram inscrição para votar.
Até pouco tempo, a Irlanda era um feudo da Igreja Católica, por razões históricas e também políticas, relacionadas com seu secular enfrentamento com a anglicana Inglaterra. O país teve sua independência do Reino Unido no início do século XX. O escândalo dos abusos sexuais de crianças por parte do clero, entre outros, enfraqueceu sua posição.
Aborto livre nas primeiras semanas
Caso o “sim” vença, o governo de Leo Varadkar já tem uma lista de mudança nas leis, que permitiria abortar livremente durante as doze primeiras semanas de gravidez e, em algumas circunstâncias, nos primeiros seis meses.
Na quinta-feira (24), Varadkar, que defende a liberalização, convocou a população a votar, classificando o referendo de “oportunidade única em uma geração” e avisando que não haverá outro referendo qualquer que seja o resultado, em entrevista à rádio Newstalk. O primeiro-ministro lembrou que, desde que se introduziu a emenda constitucional proibindo o aborto, decidida em referendo em 1983, “170.000 mulheres foram para o exterior abortar”.
Em 2013, decidiu-se que as mulheres, cuja vida corria risco com a gravidez, poderiam interrompê-la, após o escândalo causado pela morte de Savita Halappanavar, que morreu por não ter tido um pedido de aborto negado após os médicos não identificarem a tempo o risco que a gravidez representava.
A ideia do novo referendo ganhou impulso com o caso de Amanda Mellet, que teve de viajar para o Reino Unido para abortar, depois de detectar que o feto sofria uma anomalia mortal e de levar seu caso à ONU.
Por outro lado, Gavin Boyne, um estudante de Filosofia de 20 anos, explica que deve sua vida à proibição do aborto e que vai votar a favor de manter a oitava emenda. Sua mãe engravidou por acidente, e seus pais decidiram enviá-la para a Inglaterra para abortar. Finalmente, voltaram atrás. “Meus avós reconheceram que era um ser humano único, com um valor. Por isso, não podiam me matar. Se a oitava emenda não tivesse existido em 1998, hoje eunão estaria aqui”, afirma.
Já para a dublinense Ciara Grealy, de 21, não tem sentido “exportar mulheres para outros países para fazer algo que deveriam poder fazer aqui de maneira segura e legal”.
(Com EFE)