O Irã abriu as urnas nesta sexta-feira, dia 1º, dando início a eleições legislativas que devem ter baixa participação e consolidar o poder do regime conservador. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, como determina a tradição na República Islâmica, foi o primeiro a votar.
Khamenei fez um apelo à população para comparecer às urnas, escrevendo no X, antigo Twitter, que “as eleições são o principal pilar da República Islâmica”. Ele também afirmou que votar era uma forma de resistência, além de uma responsabilidade cidadã.
Mais de 61 milhões de eleitores, dentro de uma população de 85 milhões, estão registrados para votar nestas eleições, de acordo com o Conselho de Supervisão Eleitoral do Irã. No entanto, a participação eleitoral está em declínio no país, devido à desconfiança no regime, ao aumento das dificuldades econômicas e a um movimento de protestos que foi duramente reprimido no ano passado. De acordo com uma pesquisa realizada pela televisão estatal, apenas 41% dos entrevistados afirmaram que pretendem votar nesta sexta-feira.
Legitimidade
A participação da população no processo eleitoral é importante para que o governo iraniano demonstre legitimidade no cenário internacional, principalmente após o aumento das tensões no Oriente Médio devido à guerra em Gaza.
“Os inimigos do Irã querem ver se o povo está presente, porque, caso contrário, ameaçarão a sua segurança de uma forma ou de outra”, reforçou o líder supremo à população.
Estas são as primeiras eleições após a morte de Mahsa Amini em 2022, uma jovem curda que faleceu sob a custódia da chamada polícia da moralidade, e os grandes protestos desencadeados pelo incidente. Amini foi detida por supostamente desrespeitar o código de vestimenta para mulheres iranianas, que obriga o uso do véu islâmico (o hijab).
O novo parlamento selecionará o sucessor de Khamenei, 84 anos, se ele morrer antes de completar seu mandato de oito anos. As eleições vão definir os 290 membros do parlamento e os 88 membros da Assembleia de Peritos, responsáveis por nomear o líder supremo, a mais alta autoridade política do Irã.
Opções limitadas
Dentre as 49 mil candidaturas apresentadas, apenas 15.200 foram aprovadas pelo conselho de integrantes nomeados ou autorizados pelo líder supremo. Assim como nas últimas eleições, em 2020, muitos nomes de partidos centristas, reformistas e moderados foram proibidos de participar do processo eleitoral.
Os resultados das votações serão anunciados no domingo, 3, ou segunda-feira, 4, e não devem modificar o perfil habitual do Parlamento, onde mais de 230 das 290 cadeiras são ocupadas por conservadores e ultraconservadores. Na Assembleia dos Peritos, os cargos são ocupados exclusivamente por homens acadêmicos islâmicos.
Segundo o jornal conservador Javan, o ex-presidente reformista Mohammad Khatami afirmou no mês passado que o Irã estava “muito longe de eleições livres e competitivas”.