Irã convoca reuniões de emergência e diz ter dever de punir Israel
Dias após assassinato do líder do Hamas na capital iraniana, governo chama embaixadores estrangeiros em Teerã e marca reunião de crise com estados árabes
O Irã convocou embaixadores estrangeiros baseados em Teerã nesta segunda-feira, 5, para alertá-los sobre o dever moral do país de punir Israel pelo assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, há uma semana na capital iraniana. A República Islâmica, que o recebeu como convidado de honra para a cerimônia de posse do novo presidente, qualificou o ato como “aventureirismo” e violação da lei internacional.
Além disso, o governo iraniano marcou para a quarta-feira, 7, uma reunião de emergência da Organização de Cooperação Islâmica (OIC), onde tentará pressionar os estados árabes a apoiar seu direito de tomar ações de represália contra o ataque israelense. Apesar de muitos líderes no Golfo terem condenado as ações de Israel, também pediram por contenção do Irã – uma discussão que deve se intensificar na sede da OIC em Jeddah, Arábia Saudita.
Retaliação iminente
É possível que o Irã espere o resultado da reunião da OIC para lançar um contra-ataque a Israel. Contudo, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, previu que uma série de ofensivas iranianas coordenadas podem começar ainda nesta segunda-feira. O presidente americano, Joe Biden, deve se encontrar com sua equipe de segurança nacional em Washington às 14h15 (15h15 em Brasília).
O aeroporto de Teerã cancelou uma série de voosna noite de domingo, sugerindo que temia que aeronaves civis pudessem ser apanhadas no fogo cruzado dos militares. Em 2020, enquanto os Estados Unidos e o Irã se envolveram em situação semelhante à atual, a Guarda Revolucionária Islâmica abateu por engano um voo civil ucraniano de Teerã para Kiev, matando todos os 176 passageiros a bordo.
O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Sergei Shoigu, chegou a Teerã nesta segunda-feira para conversas com a liderança iraniana, incluindo o recém-empossado presidente, Masoud Pezeshkian. Shoigu, ex-ministro da Defesa da Rússia, foi removido do cargo pelo chefe do Kremlin, Vladimir Putin, mas continua sendo peça central para a cooperação de defesa russo-iraniana.
Não há sinais de que a Rússia esteja pedindo moderação.
Ação “necessária”
O Irã tenta retratar seu planejado contra-ataque com mísseis contra Israel como necessários, com objetivo de tentar restabelecer sua capacidade de dissuasão regional (ou seja, de evitar ataques pelo medo de retaliação) após o fracasso dos Estados Unidos em controlar Israel, importante aliado.
Em uma reunião com diplomatas estrangeiros, o ministro das Relações Exteriores interino do Irã, Ali Bagheri, disse que seu país tem “dever moral e responsabilidade de não permanecer em silêncio” diante da guerra em Gaza, acusando os militares israelenses de cometerem “genocídio” contra os palestinos.
“Indiferença e apaziguamento diante do mal e da injustiça é um tipo de negligência moral e causa a disseminação do mal”, justificou.
Risco de escalada
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Nasser Kanaani, disse nesta segunda-feira que uma ação de Teerã era inevitável e pediu que os Estados Unidos interrompessem seu apoio a Tel Aviv. “O Irã busca estabelecer estabilidade na região, mas isso só virá com a punição do agressor e a criação de dissuasão contra o aventureirismo do regime sionista (Israel). O mundo deve evitar qualquer abordagem que signifique apoiar o agressor”, disse ele.
Foi um recado especial aos estados do Golfo. Algumas dessas nações, incluindo a Jordânia, cooperaram com potências ocidentais no dia 13 de abril para reduzir o impacto de um ataque iraniano a Israel – este uma resposta ao assassinato de comandantes da Guarda Revolucionária Islâmica na embaixada iraniana na Síria. Daquela vez, Teerã demorou 12 dias para decidir quando e como seria sua resposta, calibrando-a de forma que não produzisse uma guerra regional. Agora, porém, a retórica contra a escalada perdeu a força.
Teme-se que haja um ataque coordenado contra Israel, composto pela facção libanesa Hezbollah, o grupo terrorista palestino Hamas, grupos militantes iraquianos, os rebeldes houthis no Iêmen e o próprio Irã, que financia a todos eles.