No clima de animação que marca o Diwali, o festival das luzes do hinduísmo, mais de 350 pessoas se aglomeravam no domingo 30 sobre uma ponte suspensa no estado de Gujarat, na Índia, aproveitando o fim da tarde para relaxar e apreciar as águas do Rio Machchhu. De repente, um cabo de aço se partiu e a tragédia aconteceu — 135 pessoas morreram, entre elas trinta crianças, enquanto equipes de resgate viravam a noite buscando corpos e sobreviventes. “As pessoas ficaram penduradas, escorregaram e despencaram no rio. Eu mesmo levei muitas para o hospital”, descreveu uma testemunha do horror. A ponte de 143 anos, 230 metros de comprimento e 1,25 metro de largura, passou sete meses fechada para manutenção e acabara de ser reaberta — a culminação, sabe-se agora, de uma sequência de erros fatais. O trabalho de reparo foi entregue, sem licitação, a uma empresa que fabrica relógios e equipamentos elétricos. A data da reabertura não foi comunicada à prefeitura, que não realizou a devida vistoria. Uma antiga recomendação de limitar a ocupação máxima a vinte pessoas por vez jamais foi cumprida. Tampouco foi reprimido o costume local de sacudir os cabos para a estrutura se mover — ela era chamada de jhoolta pool, ou a ponte que balança. Nove funcionários foram presos e o governo estadual anunciou uma “indenização” equivalente a 5 000 dólares para cada morto. Nada disso apagará a visão da multidão despencando no rio — mais uma entre tantas tragédias causadas pelo descaso e pela corrupção na Índia.
Publicado em VEJA de 9 de novembro de 2022, edição nº 2814