A Igreja Ortodoxa Russa emitiu nesta quarta-feira, 4, um comunicado criticando o papa Francisco por “deturpar” a última conversa que teve com o Patriarca Kirill de Moscou. Segundo o Papa, o líder religioso teria se tornado o “coroinha de Vladimir Putin“, o presidente russo.
“Falei com Kirill por quarenta minutos via Zoom. Nos primeiros vinte, com uma carta na mão, ele leu todas as justificativas para a guerra. Eu escutei e disse a ele que não entendo nada disso. Irmão, não somos clérigos de Estado, não podemos usar a linguagem da política, mas a de Jesus”, afirmou ao jornal italiano Corriere della Sera.
Uma declaração do Departamento de Relações Externas da Igreja do Patriarcado de Moscou, publicada nesta quarta-feira, afirmou que os dois discutiram como ajudar refugiados, a liberdade religiosa e o papel dos cristãos na busca pela paz na Ucrânia.
“É lamentável que um mês e meio após a conversa com o Patriarca Kirill, o Papa Francisco tenha escolhido o tom errado para transmitir o conteúdo desta conversa. É improvável que tais declarações contribuam para o estabelecimento de um diálogo construtivo entre as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa Russa, que é especialmente necessário no momento atual”, declarou o texto.
O Patriarcado de Moscou, no entanto, não mencionou explicitamente o comentário sobre o “coroinha”.
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Kirill, de 75 anos, um aliado próximo de Putin, vê a guerra como um baluarte de resistência ao Ocidente, que ele considera decadente (particularmente pela aceitação da homossexualidade).
A Igreja Ortodoxa Russa é a maior do ramo ortodoxo oriental, que se separou do cristianismo ocidental em 1054. Hoje, tem cerca de 100 milhões de seguidores apenas dentro da Rússia. A Ucrânia tem cerca de 30 milhões de ortodoxos, divididos entre a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou e duas outras vertentes.
Francisco, de 85 anos, pediu uma reunião em Moscou com Putin, mas o Kremlin disse nesta quarta-feira que não chegou a um acordo sobre o encontro.