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Homens são os grandes responsáveis por tiroteios em massa nos EUA

Maioria dos homens que cometem assassinatos em massa não sabe lidar com perdas ou com sua própria falta de autoestima

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jun 2018, 17h42 - Publicado em 13 jun 2018, 09h30
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  • Os constantes massacres nos Estados Unidos têm levado os americanos a tentar resolver o problema da violência armada no país. Desde o último grande massacre em uma escola –a Marjory Stoneman Douglas High School, em Parkland, na Flórida, em 14 de fevereiro– estudantes de todas idades têm se manifestado e exigido legislação mais rigorosa para o acesso a armas. Dificultando a tarefa de pelo menos prevenir novos incidentes desse tipo está o fato de não haver um perfil único e específico dos agressores que cometem esse tipo de ato. Há, contudo, uma característica prevalente entre os assassinos em massa: em sua grande maioria eles são homens.

    Dos 95 tiroteios cometidos nos Estados Unidos entre 1982 e 2017, 92 foram executados por criminosos do sexo masculino, segundo levantamento da imprensa americana. Entre os três casos orquestrados por mulheres, está um em que marido e mulher agiram em conjunto, no ataque de San Bernardino, em dezembro de 2015.

    Ao contrário do que muitos acreditam, não há conexões diretas comprovadas entre pessoas com transtornos mentais diagnosticados e crimes violentos, de acordo com especialistas. Na verdade, 23% das mulheres americanas possuem algum tipo de transtorno, em comparação com apenas 16,8% dos homens.

    “Os homens são responsáveis por muito mais crimes violentos do que as mulheres. Isso é verdade em todo o mundo e ao longo da história”, afirma o professor de criminologia e estatística da Universidade da Pensilvânia, Richard Berk. Porém, segundo o psicólogo e sociólogo, ainda é difícil explicar essa maior predisposição masculina à violência.

    Há quem diga que a tendência está relacionada às diferenças hormonais, principalmente com a quantidade de testosterona, que pode influenciar comportamentos agressivos quando em excesso. “Outros especialistas se concentraram no desenvolvimento mais lento do lobo frontal masculino, o que torna os jovens mais impulsivos”, diz Berk.

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    Porém, muitos estudiosos acreditam que o comportamento criminoso não pode ser explicado apenas biologicamente, mas como resultado de uma combinação entre a natureza e a forma como um indivíduo é criado, assim como suas experiências de vida.

    Nos Estados Unidos, a maioria dos homens que cometeram assassinatos em massa o fizeram como reação a um evento trágico ou marcante em suas vidas, como o fim de um relacionamento ou a perda de um emprego. Em alguns casos, inclusive, orquestraram seus crimes como forma de provar algo à sociedade ou se vingar.

    São homens que não sabiam lidar com perdas ou com sua própria falta de autoestima. “Os homens têm sua personalidade mais ligada a estruturas como trabalho e casamento e, por isso, quando essas coisas acabam, possuem menos recursos psicológicos para superar”, diz David Wilson, professor de criminologia da Birmingham City University.

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    É o caso de Elliot Rodger, que em 2014 matou seis pessoas na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, antes de se suicidar – tudo porque se sentia rejeitado pelas mulheres. O atirador explicou claramente seus motivos em um vídeo feito antes do crime: “Vocês garotas nunca me acharam atraente (…) eu não sei o que vocês não veem em mim, eu sou o cara perfeito e vocês se atiram para todos esses caras desagradáveis em vez de mim, o cavalheiro supremo. Eu vou punir todos vocês por isso”, afirmou.

    Nas décadas de 70 a 90, casos de tiroteios em massa em agências de correio dominavam o noticiário americano. Na maioria dos cenários, os ataques foram executados por ex-funcionários ou empregados homens que estavam insatisfeitos com sua atual situação ou guardavam rancor de colegas. Muitos outros massacres em ambientes de trabalho se seguiram e ainda são comuns nos Estados Unidos atualmente.

    Comportamento violento com parceiras e antecedentes de violência doméstica também são comumente observados em assassinos em massa. Segundo uma pesquisa do grupo de controle às armas Everytown for Gun Safety, 57% dos tiroteios entre 2009 e 2015 tinham pelo menos uma esposa, ex-esposa ou algum outro membro da família do atirador entre as vítimas.

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    Nikolas Cruz, o atirador de 19 anos que invadiu a escola em Parkland, na Flórida, e matou dezessete pessoas pode se encaixar nesse perfil. Segundo as primeiras informações que surgiram da investigação sobre o caso, o adolescente foi expulso do colégio depois de brigar com o novo companheiro de sua ex-namorado. Colegas relataram que Cruz era bastante abusivo com a menina, a ameaçava e perseguia depois das aulas.

    O adolescente comprou uma metralhadora AR-15 (versão civil do fuzil M16) legalmente, em uma loja na cidade de Coral Springs. O rifle foi usado para disparar centenas de vezes contra seus colegas. A escolha de uma arma de fogo como instrumento do massacre também não é coincidência. Homens tendem a ter mais acesso a armas e a treinamentos para usá-las corretamente do que mulheres. São incentivados a admirar personagens do cinema com armamentos.

    Para David Wilson, isso é um fenômeno cultural, porém não exclusivo dos americanos. A grande diferença é que, em partes dos Estados Unidos – como a Flórida, onde com apenas 18 anos um jovem já pode adquirir um rifle de cano longo– é tão fácil comprar uma arma que o artefato já está disponível até mesmo on-line.

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