As autoridades de Ruanda detiveram nesta segunda-feira, 31, o ativista humanitário Paul Rusesabagina, que resgatou mais de mil pessoas durante o genocídio no país em 1994, inspirando o filme hollywoodiano Hotel Ruanda, de 2004. Crítico de longa data ao presidente, Paul Kagame, Rusesabagina é acusado de cometer atos de terrorismo.
Segundo o Gabinete de Investigação de Ruanda (GIR), Rusesabagina, que vivia exilado na Bélgica, foi preso graças à cooperação internacional. O ativista está agora detido em uma delegacia na capital, Kigali.
O porta-voz adjunto do GIR, Thierry Murangira, se recusou a esclarecer as circunstâncias da prisão, pois isso poderia, de acordo com ele, “prejudicar a investigação”.
O Ministério Público da Bélgica informou que Rusesabagina não foi detido no país europeu. O órgão confirmou que reconhecia Rusesabagina como alvo de um mandado de prisão internacional. Os belgas foram informado por Ruanda de sua detenção, mas “sem detalhes das circunstâncias”.
Segundo Murangira, o ativista é “suspeito de ter financiado e criado grupos terroristas operando nos Grandes Lagos Africanos”, região no leste do continente que compreende Ruanda e outros seis países.
As autoridades culpam o ativista de provocar incêndios, realizar sequestros e cometer assassinatos em território ruandês em, pelo menos, duas ocasiões, em junho e dezembro de 2018.
O governo dos Estados Unidos, onde Rusesabagina também tinha uma residência, não se pronunciou. A filha do ativista, Carine Kanimba, disse à agência de notícias Associated Press que Rusesabagina foi sequestrado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde estava em uma viagem sem fins conhecidos.
Hotel Ruanda
Rusesabagina ficou célebre internacionalmente por sua ação humanitária durante o genocídio de abril a julho de 1994 em Ruanda, no qual quase 800.000 pessoas foram assassinadas, em sua maioria membros da minoria étnica Tutsi.
Então gerente do Hotel des Mille Collines, em Kigali, Rusesabagina — que é Hutu, grupo étnico no poder do país durante o genocídio — é creditado por ter protegido mais de mil pessoas do massacre.
Alguns ruandeses o consideram um herói que salvou mais de mil pessoas ao abrigá-las no hotel, mas outros, dentre eles o Ibuka, um coletivo de sobreviventes do genocídio, descrevem essa narrativa como exagerada.
Sucesso nos cinemas, o filme Hotel Ruanda foi indicado a três categorias do Prêmio Oscar em 2005.
No mesmo ano, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, concedeu a Rusesbagina a Medalha Presidencial da Liberdade.
Crítico à Presidência
O ativista é um opositor feroz do governo de Kagame. No poder desde 1994, quando seu movimento político Frente Patriótica de Ruanda encerrou o genocídio, Kagame é criticado por liderar o país com punho de ferro, reprimindo todas as formas de dissidência e prendendo ou exilando políticos da oposição.
A organização Human Rights Watch (HRW) acusou seu regime de execuções sumárias, prisões, detenções ilegais e torturas nas prisões.
A HRW também denunciou o governo ruandês por reprimir a liberdade de expressão e de perseguir opositores em meio às eleições presidenciais de 2017, nas quais Kagame venceu com 99% dos votos.
(Com AFP)