Em sua primeira aparição pública desde seu juramento como presidente interino da Venezuela, o líder oposicionista Juan Guaidó tentou atrair os militares a sua causa e pediu a mobilizacão de pequenos grupos para a tarefa de convencê-los. Ciente do mal-estar nas casernas com o comando das Forças Armadas por oficiais de Cuba, Guaidó afirmou nesta sexta-feira que chegou a hora de os cubanos deixarem o país.
“É hora de Cuba sair das Forças Armadas. É hora de os cubanos se retirarem dos postos de decisão”, declarou. “Irmãos cubanos, vocês são bem-vindos, mas desde que estejam fora da Forças Armadas e dos postos de decisão. Isso tem a ver com a nossa soberania.”
Guaidó organizou uma entrevista coletiva para a imprensa na Praça Bolívar, no bairro de classe média de Chacao, em Caracas. Falando diretamente aos familiares e amigos de militares venezuelanos, ele deu instruções para que pequenos grupos batam na porta das casas deles para convencê-los a aderir ao seu movimento de redemocratização. Pediu ainda que imprimam a lei aprovada pela Assembleia Nacional que prevê a anistia aos servidores civis e militares que o apoiarem.
“Chegou o momento de eles se porem ao lado da Constituição, do lado do povo venezuelano, do governo de transição e das eleições livres”, afirmou. “Eles vão ou não permitir o ingresso dos remédios que logo chegarão?”, provocou, referindo-se ao ingresso da ajuda humanitária de 20 milhões de dólares prometida pelos Estados Unidos e à que virá de outros países. “Vamos ver o que dizem as Forças Armdas quando (o Palácio governamental de) Mirafloes não possa nem lhes pagar o salário”, continuou.
Guaidó chamou as pessoas de “irmãos” e “irmãs” e expôs um estilo cativante ao falar com a multidão. A multidaão repetia o leva da campanha de Barack Obama para a Casa Branca, em 2018: “sim, podemos”. Em um desdobramento de sua declaração, na manhã desta sexta-feira, de que poderia ser preso a qualquer momento pelas forças de Maduro, ele rebateu: “aí, sim, haveria um golpe de estado.”
À multidão, ele novamente se comprometeu a transição para a democracia e com a convocação de eleições “o mais breve possível”. Também fez um apelo para que as representações diplomáticas dos Estados Unidos e de outros países que o reconheceram continuam com “as suas portas abertas” e que os postos da Venezuela em solo americano não se fechem.
“As vítimas não morreram em vão”, afirmou, referindo-se aos manifestantes mortos e feridos nesta semana e aos líderes da oposição presos, torturados e forçados ao exílio. “Despertamos de um pesadelo. Acreditávamos que estávamos submetidos a viver desta maneira”, afirmou, referindo-se em seguida a Maduro como usurpador, corrupto e ladrão. “Aqui, ninguém vai se render. A Venezuela acordou para nunca mais dormir.”