O porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov, se manifestou nesta segunda-feira, 14, sobre a visita do presidente Jair Bolsonaro ao país, que acontecerá daqui a dois dias, em meio ao ápice da crise envolvendo a Ucrânia.
“Esperamos essa visita com impaciência”, garantiu em entrevista coletiva diária, na qual explicou que, durante a reunião junto ao presidente Vladimir Putin, serão abordadas relações bilaterais, já que existe uma “agenda bastante ampla”.
“Também se falará de esferas potenciais em que se pode ser aprofundada e ampliada a interação”, afirmou o porta-voz, que afirmou que os dois líderes concederão uma entrevista coletiva conjunta logo depois do encontro.
De acordo com Peskov, o diálogo russo-brasileiro será uma “boa oportunidade para trocar opiniões sobre os temas mais candentes da agenda mundial, incluindo aqueles de que falamos faz bastante tempo”, em uma referência às tensões envolvendo a Ucrânia.
O momento escolhido para a viagem de Bolsonaro tem sido alvo de críticas. Especialistas alertam que, com a viagem, o presidente corre o risco de passar o recado de que o Brasil se alinha à Rússia quanto a uma eventual invasão do território ucraniano. Os Estados Unidos são hoje o segundo principal parceiro comercial do Brasil, considerando exportações e importações. A Rússia, por sua vez, ocupa a 16ª colocação.
A VEJA, o ex-embaixador Sergio Amaral destacou que Brasil e Rússia têm relação antiga e fazem parte do Brics, grupo que reúne ainda China, Índia e África do Sul. Em outras situações, uma missão oficial seria algo natural, mas não em meio a uma tensão que pode resultar em guerra.
“Nesta circunstância é difícil evitar que essa visita seja interpretada como um gesto de simpatia e até solidariedade com Moscou”, destacou.
As preocupações se dão em meio à consolidação de forças russas perto da fronteira com a Ucrânia. De acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, há, atualmente, mais de 127.000 soldados russos posicionados perto de seus limites. A Rússia cercou o norte do país vizinho, onde a fronteira é mais desguarnecida, posicionando seu Exército como uma ferradura, cercando a região por três lados, em territórios de Belarus, de quem é aliada.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma confirmação terá consequências graves. Segundo Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A Aliança e os Estados Unidos, por sua vez, afirmam que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.