Em outubro passado, um grupo de cientistas emitiu um “aviso urgente” na prestigiada Scientific Reports: pesquisas indicavam, de forma contundente, que o aquecimento do planeta tornou furacões no Atlântico mais frequentes, intensos e rápidos, com probabilidade duas vezes maior de atingirem categoria superior a 3, na escala que vai até 5, em menos de 24 horas. Dito e feito. Neste início de julho, uma pequena tempestade tropical se transformou no poderoso furacão Beryl, que devastou com fúria máxima o arquipélago de Granada, no Caribe, onde vivem 6 000 pessoas. Os ventos de mais de 260 quilômetros por hora danificaram 98% dos edifícios, deixaram sete mortos, arrastaram lanchas e barcos para a praia e quebraram uma preocupante série de precedentes. A temporada de furacões no Atlântico nunca começou tão cedo — o recorde anterior, de 2005, foi em 16 de julho —, nem com tanto vigor. O fenômeno é resultado direto do aumento das temperaturas na superfície dos mares, que absorvem mais de 90% do calor que gases do efeito estufa retêm na atmosfera. Água quente é como gasolina para furacões e, quanto mais combustível, mais veloz e potente é a tempestade. Enquanto o Beryl seguia sua trajetória de destruição na direção da Jamaica, Ilhas Cayman e Golfo do México, previa-se a passagem de até 25 furacões nesta temporada, metade dos quais com igual força e rapidez para tomar contornos trágicos. É um sombrio lembrete de que enfrentar a mudança climática não é coisa para o futuro. O drama é aqui, agora.
Publicado em VEJA de 5 de julho de 2024, edição nº 2900