O francês de 71 anos acusado de dopar a mulher por quase uma década para que ela fosse estuprada por dezenas de desconhecidos, aliciados por ele, admitiu em julgamento nesta terça-feira, 17, que é “um estuprador”.
Dominique Pélicot afirmou ainda que os outros 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos, acusados de estuprar sua então esposa, Gisèle Pélicot, de 72 anos, também são culpados do crime e sabiam que a vítima era drogada para que os abusos acontecessem. “Eles sabiam de tudo. Não podem dizer o contrário”, declarou.
“Eu sou um estuprador, assim como os outros nesta sala”, disse Pélicot, referindo-se aos demais réus. “Sou culpado pelo que fiz — falo à minha esposa, meus filhos, meus netos… Me arrependo do que fiz e peço perdão, mesmo que seja imperdoável.”
Depoimento decisivo
É a primeira declaração de Pélicot desde o início do julgamento, em 2 de setembro. O réu chegou ao tribunal utilizando uma bengala e sua advogada, Beatrice Zavarro, disse à agência de notícias AFP na segunda-feira que ele tem um “coágulo na bexiga” e uma infecção renal, mas estava em condições de comparecer ao tribunal.
“Para mim, é difícil ouvir Pélicot, porque, em 50 anos, nunca imaginei nem por um segundo que ele pudesse estuprar alguém. Eu tinha plena confiança naquele homem”, disse Gisèle ao tribunal.
O depoimento de Pélicot será decisivo para o julgamento dos outros acusados. Alguns dos 50 homens admitiram que estavam cientes que Gisèle estava dopada durante os abusos, enquanto outros alegam que acreditavam estar participando de uma espécie de “fantasia sexual” do casal.
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O réu acrescentou que foi estuprado aos nove anos por uma enfermeira em um hospital, quando foi internado para tratar de um ferimento na cabeça. Depois, aos 14 anos, segundo ele, foi forçado a participar do estupro coletivo de uma mulher enquanto trabalhava como aprendiz em um canteiro de obras. “Você não nasce um pervertido, você se torna um”, disse ele.
Gisèle pediu que o julgamento do marido, que se estenderá até 20 de dezembro, fosse público para expor o caso. Um procedimento a portas fechadas “era o que seus agressores queriam”, disse Antoine Camus, um de seus advogados.
Entenda o crime
Pélicot é acusado de colocar soníferos e medicamentos contra ansiedade nas refeições ou no vinho da esposa na residência do casal em Mazan, na Provença, relatou a polícia local. Ele supostamente usava uma sala de bate-papo online para recrutar homens para abusar sexualmente dela, e não pedia dinheiro em troca.
A polícia contabilizou um total de 92 estupros, cometidos por 72 homens, dos quais 51 foram identificados. Camus já havia afirmado que o marido “sempre se declarou culpado” e teria dito: “Eu a coloquei para dormir, a ofereci (aos outros) e filmei tudo”.
Os abusos foram descobertos por acaso, quando Pélicot foi preso em setembro de 2020, depois que um segurança o flagrou usando uma câmera para filmar as partes íntimas de três mulheres, por baixo de suas saias, em um supermercado. Ao acessar o computador do réu durante as investigações, a polícia encontrou um arquivo com o título “abusos”, que continha 20 mil fotos e vídeos de sua esposa sendo estuprada quase 100 vezes.
O caso provocou indignação em toda a França, onde milhares de pessoas tomaram as ruas para protestar contra o estupro e pedir a prisão dos acusados de abusar de Gisèle.