A França vive nesta quinta-feira, 5, um dia de greve geral contra o projeto de reforma da Previdência defendido pelo presidente Emmanuel Macron. A paralisação afeta vários serviços no país, incluindo trens, aviões, escolas e hospitais. Por falta de equipe, a Torre Eiffel ficará fechada hoje.
Quase 90% das viagens dos trens de alta velocidade foram canceladas nesta quinta-feira. Dez das 16 linhas de metrô de Paris estavam fechadas, centenas de voos foram cancelados e muitas escolas não abriram as portas.
Policiais, garis, advogados, aposentados e motoristas de transportadoras, assim como os “coletes amarelos”, o influente movimento social surgido em novembro de 2018 na França, aderiram à greve.
Quase 250 comícios estão previstos em dezenas de cidades. Em Paris, as autoridades anunciaram a mobilização 6.000 policiais para evitar distúrbios durante uma passeata prevista para a tarde.
A indignação popular foi motivada pela reforma da Previdência preparada pelo governo de Macron, uma promessa de campanha que tem como objetivo eliminar os 42 regimes especiais que existem atualmente e que concedem privilégios a determinadas categoria profissionais.
O governo pretende estabelecer um sistema único, no qual todos os trabalhadores terão os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria.
Para o governo, este é um sistema mais justo e mais simples, no qual “cada euro cotado dará a todos os mesmos direitos”. Porém, os sindicatos temem que o novo sistema adie a aposentadoria, atualmente aos 62 anos, e diminua o nível das pensões.
A greve nos transportes públicos parisienses continuará pelo menos até a segunda-feira 9, segundo fontes sindicais. Quase todos os trabalhadores em greve votaram a favor de continuarem mobilizados. disse Thierry Babec, do sindicato UNSA, acrescentando que a rede de transportes públicos parisienses permanecerá “praticamente paralisada” se o governo não abandonar a reforma.
Para evitar o caos nos transportes, muitos franceses optaram por trabalhar de casa nesta quinta. “Pedi para trabalhar de casa hoje, mas espero que a greve não dure muito porque não posso fazer isto por muito tempo”, declarou Diana Silavong, executiva em uma empresa farmacêutica.
Muitas pessoas decidiram caminhar de suas casas até o local de trabalho. “Eu queria pegar uma bicicleta, mas acho que todos tiveram a mesma ideia”, disse Guillaume, sorrindo, diante de uma estação de bicicletas de serviço gratuito completamente vazia em Paris. “Vou ter que seguir para o escritório a pé”, acrescentou, resignado.
O caos e a desinformação também prejudicaram os turistas, muitos deles surpresos ao ver as portas do metrô fechadas. “Ontem compramos passagens e hoje não há ninguém para nos informar”, disseram Pedro Marques e Ana Sampaio, dois portugueses que pretendiam visitar Montmartre.
Torre Eiffel fechada
A Torre Eiffel, um dos monumentos mais populares de Paris, permanecerá fechada na quinta-feira. A equipe presente “não é suficiente para abrir o monumento em condições ótimas de segurança e acolhida ao público”, informou a empresa que administra o local.
O Castelo de Versalhes aconselhou que os turistas “adiem” as visitas de quinta e sexta-feira. Também era quase impossível chegar ao aeroporto Charles de Gaulle porque a linha de trem que liga Paris aos terminais funcionava de maneira parcial, apenas nos horários de pico.
A paralisação de parte dos controladores aéreos obrigou a Air France a cancelar 30% dos voos domésticos e 15% dos voos europeus. A empresa informou, no entanto, que todos os voos de longa distância serão mantidos.
A companhia britânica de baixo custo EasyJet cancelou 223 voos nacionais e internacionais de curta distância e advertiu que outras viagens podem sofrer atrasos.
Muitas escolas do país permaneceram fechadas. “Quase 70% dos professores do ensino básico estão em greve. Os números do ensino médio são similares. Nunca havia visto algo semelhante”, disse Bernadette Groison, secretária-geral do FSU, o principal sindicato dos trabalhadores do setor de ensino.
O movimento de protesto também recebeu o apoio de 182 artistas e intelectuais, entre eles o economista Thomas Piketty, autor de um ‘best-seller’ sobre a desigualdade, assim como dos partidos de esquerda.
(Com AFP)