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França e Itália em crise diplomática por causa dos refugiados do Aquarius

Conselho Europeu tratará de refúgio no final do mês; Áustria, Itália e Alemanha criam 'eixo na luta contra imigração ilegal'

Por Da Redação
Atualizado em 13 jun 2018, 18h53 - Publicado em 13 jun 2018, 17h29
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  • As relações entre a França e a Itália mergulharam em crise depois de declarações muito pouco diplomáticas de lado a lado sobre o destino dos 629 refugiados resgatados pelo navio Aquarius. O governo de direita da Itália os resgatou do mar, mas decidiu não acolhê-los. Empurrou para Malta, que se recusou. O francês, de centro, não sinalizou sobre recebê-los. Apenas o novo governo socialista da Espanha decidiu abraçá-los.

    A briga entre Itália e Franca começou na terça, quando Emmanuel Macron acusou Roma de “cinismo e irresponsabilidade” por ter fechado seus portos aos imigrantes, que permanecem até hoje à deriva. O governo italiano reagiu em várias searas e exigiu desculpas do Palácio do Eliseu.

    O ministro da Economia, Giovanni Tria, cancelou a visita que faria ao ministro de Finanças francês, Bruno Le Maire, em Paris. “Se o pedido de desculpas não vier, o ministro faria bem de não ir à França”, avisou o titular da pasta do Interior e vice-premiê, Matteo Salvini.

     

    Simultaneamente, o Ministério das Relações Exteriores da Itália chamou o diplomata de maior grau na hierarquia da embaixada francesa em Roma, Claire Anne Raulin, para explicar as declarações de seu presidente. Esta foi a segunda convocação desse tipo por causa de incidentes ligados à crise migratória desde o final de março.

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    O ministro das Relações Exteriores, Enzo Moavero Milanesi, recebeu pessoalmente Raulin e ressaltou o caráter “inaceitável” e “injustificável” das declarações em Paris. Na terça-feira, o primeiro-ministro da Itália, o populista Giuseppe Conte, afirmou que seu país “não pode aceitar lições hipócritas de países que preferiram virar a cabeça para as questões de imigração”.

    A Franca ainda tentou, nesta quarta-feira, conter a gritaria. Com um tom mais conciliador, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Agnes von der Muhll, disse estar “completamente ciente do fardo que as pressões migratórias impõem à Itália”. Acrescentou que a França continua comprometida a colaborar com Roma sobre imigração.

    O próprio presidente Macron, entretanto, pode ter entornado a tentativa de apaziguamento de sua chancelaria ao chamar a atenção para o conhecido temperamento italiano. Macron pediu à Itália que priorize a “razão” e deixe as “emoções” de lado.

    “Há um ano nós  trabalhamos ao lado da Itália de forma exemplar. Diminuímos as chegadas (dos barcos), com um trabalho ativo e construtivo na Líbia e no Sahel”, argumentou.

    Enquanto a crise diplomática explodia entre Itália e França, a causa de tanta discussão se preparava, na costa da Sicília, para seguir viagem a Valência, na Espanha. O navio Aquarius, fretado pela ONG francesa SOS Méditerranée, e as outras duas embarcações da Marinha e da Guarda-Costeira italianas devem chegar à Espanha no sábado às 21h. Mas as condições meteorológicas podem atrasar a jornada para seus 629 passageiros. Eles haviam ficado à deriva por 72 horas, no Aquarius,  à espera de uma decisão da Itália e de Malta.

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    Eixo

    A tensão entre os dois países acontece a duas semanas da reunião do Conselho Europeu, nos dias 28 e 29 de junho, que se concentrará na questão migratória. Mais de 1,8 milhão de refugiados chegaram à Europa desde 2014, e a Itália abriga mais de 170 mil, que já pediram asilo, e cerca de 500 mil ainda não registrados.

    A crise franco-italiana evidenciou a cacofonia que reina na Europa sobre a questão. O caso mais preocupante foi a criação de um novo “eixo na luta contra a imigração ilegal” entre Áustria, Itália e Alemanha, oficializado hoje pelo chanceler austríaco Sebastian Kurz. Assim como o novo governo da Áustria, a direita tem se elegido no Leste e Centro da Europa com a promessa de fechar suas fronteiras aos refugiados.

    Nesse contexto, a Itália acusa regularmente seus parceiros europeus, a começar pela França, de deixá-la sozinha diante dos 700.000 migrantes que desembarcaram em suas costas desde 2013. A Liga, partido do ministro do Interior e vice-premiê Salvini recebeu sua maior votação na história nas eleições de março, em parte por conta de suas promessas de deportar centenas de milhares de migrantes e conter o fluxo de outros novos. No governo, está coligado ao Movimento 5 Estrelas, que é antissistema.

    Para Macron, a resposta para a crise migratória passa pela promoção de uma plano de desenvolvimento e segurança e pelo desmantelamento das redes de tráfico de pessoas na África. A Europa, insiste o francês, precisa de uma política comum de asilo. Nos últimos dias 10 e 11, o governo francês desarmou dois acampamentos de refugiados em Paris e removeu mais de 1.000 pessoas para ginásios de esportes.

    (Com AFP, EFE e Reuters)

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