Região sujeita a instabilidades, que não raro descambam para guerras abertas, como o atual conflito entre Israel e o Hamas, o Oriente Médio experimenta uma corrida armamentista de consequências imprevisíveis.
O responsável pela situação explosiva é o regime dos aiatolás, que controla o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979.
A fim de expandir sua zona de influência, Teerã iniciou uma ousada estratégia de distribuição de drones, foguetes e mísseis para grupos espalhados pelo Oriente Médio.
Além disso, as Forças Armadas iranianas fornecem expertise para que os terroristas possam operar os armamentos de forma cada vez mais destrutiva.
A estratégia de Teerã é de se infiltrar em países disfuncionais, em que não há repressão por parte do governo.
Entram nesse conjunto de países o Iraque, a Síria, o Iêmen e a Faixa de Gaza.
Essa união de grupos terroristas é classificada pelo Irã como Eixo de Resistência e teria, segundo a ditadura iraniana, o objetivo de resistir ao imperialismo dos Estados Unidos e à influência da Arábia Saudita.
No caso do Iêmen, nação do Golfo Pérsico mergulhada numa sangrenta guerra civil, o Irã treina os xiitas do grupo Houthis.
No último domingo, 19, a facção assumiu o controle de um navio de propriedade israelense no sul do Mar Vermelho.
Israel descreveu o incidente como um “ato de terrorismo iraniano”, com consequências para a segurança marítima internacional.
Desde o atentado de 7 de outubro, os Houthis também passaram a disparar mísseis de longuíssimo alcance, capazes de viajar mais de 1.600 quilômetros.
Até o momento, esses dispositivos foram interceptados pelos Estados Unidos.
Além dos Houthis, o Hamas, responsável pelos ataques terroristas em 7 de outubro contra Israel, passou a receber mísseis de crescente poder de fogo.
Em 2007, o arsenal de foguetes do Hamas era calculado na casa de poucas centenas, segundo estimativas de Israel.
Esse número saltou para 10.000 em 2014 e triplicou para 30.000 em 2021.
No Líbano, o Hezbollah passou de cerca de 15.000 mísseis, em 2006, ano em que travou uma guerra com Israel, para cerca de 150.000 atualmente.
Para piorar, cerca de 400 deles são mísseis de longo alcance, que podem atingir qualquer lugar em Israel.
O resultado é que agora esses grupos armados representam um nível de ameaça militar, sobretudo a Israel, jamais visto.
A principal ameaça é empurrar o Estado judeu para uma guerra em duas frentes, uma em Gaza, contra o Hamas, e outra na fronteira norte, com o Líbano, contra o Hezbollah.
Analistas militares de Israel vêm ressaltando a gravidade do momento. Em choque com Israel travado em 2014, o Hamas realizou naquele período 192 lançamentos de foguetes por dia.
Anos mais tarde, nos conflitos de 2021, o número de disparos da facção palestina subiu para 470 artefatos diários.
E, nos ataques de 7 de outubro, foram impressionantes 2.200 somente naquele dia.
De acordo com levantamento feito por Michael Horowitz, do Pentágono, em 1990 apenas nove países dispunham de bombas “inteligentes”.
E mesmo potências da Otan, além de China e Índia, não tinham essa capacidade.
Essa categoria de superexplosivos diz respeito aos artefatos guiados com precisão, que utilizam navegação inercial, orientação a laser e satélite para encontrar seus alvos.
Mas a categoria se expandiu numa velocidade sem precedentes. Agora, ao menos 56 países dispõem de equipamentos do tipo.
Como resultado, o avanço tecnológico aumentou o perigo de um ataque-surpresa – e mortífero.
Antes, quando países desejavam atingir alvos em territórios distantes, precisavam de uma força aérea complexa e cara de ser mantida.
Agora, grupos e nações sem força aérea podem atingir alvos a distâncias superiores a 1.000 quilômetros.
“Isso altera o jogo de equilíbrio”, diz Fabian Hinz, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, do International Institute for Strategic Studies, do Reino Unido.
Esse novo capítulo dos jogos de guerra do Oriente Médio representa um tremendo desafio para os sistemas de defesa, sobretudo de Israel.
O Domo de Ferro, por exemplo, calcula para onde um míssil vai se dirigir e o intercepta apenas se ele for cair numa área importante, como regiões povoadas ou uma base militar.
Na guerra que Israel travou com o Hezbollah, em 2006, quase todo o arsenal dos xiitas era de mísseis não inteligentes.
Mas agora o Irã fornece kits capazes de transformar mísseis normais em versões de altíssima precisão.