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EXCLUSIVO: Filha de brasileiro levado pelo Hamas narra luta para revê-lo

Hen Mahluf, 33 anos, conta a VEJA sobre seu pai, Michel Nisembaum, israelo-brasileiro que desapareceu durante os atentados do Hamas em 7 de outubro

Por Amanda Péchy
Atualizado em 12 dez 2023, 19h30 - Publicado em 12 dez 2023, 19h04

Os olhos de Hen Mahluf, 33 anos, se enchem de água toda vez que pronuncia o nome do pai, o israelo-brasileiro Michel Nisembaum, 59 anos, mas sua voz se mantém firme. “Preciso contar sua história. É o único jeito de trazê-lo de volta para casa”, explicou ela em entrevista a VEJA nesta terça-feira, 12. Desaparecido desde os atentados de 7 de outubro cometidos pelo Hamas em Israel, Michel foi reconhecido pelo governo brasileiro como um dos cativos do grupo terrorista palestino só dois meses depois. Sua família, porém, não parou de procurá-lo por um segundo. No fatídico dia 7, pouco antes das 7h da manhã, Michel saiu de casa para buscar sua netinha, filha mais nova de Hen. “Meu pai me ajudava em tudo”, relembra. Ele deveria dirigir de Sderot, onde mora, no sul de Israel, para Ashkelon, a 70 quilômetros de distância. Poucos minutos depois, quando ficou claro que havia uma invasão terrorista, Hen ligou para ele – mas ninguém atendeu. “Descobrimos depois que ele sabia dos ataques e até conseguiu ajudar uma pessoa a escapar, que hoje está viva e em casa. Cheguei a ficar irritada com ele por isso. Por que salvou alguém, e não conseguiu se salvar?”, questionou ela. “Mas meu pai era assim. Todo mundo vinha antes.” A família não tem notícias de seu paradeiro desde então e, para manter viva a luta para revê-lo, saiu em um périplo pela América do Sul com objetivo de sensibilizar governos e populações sobre a causa dos reféns mantidos em Gaza. Depois de passar pelo Uruguai e Argentina, terminou a viagem em São Paulo, onde, no Clube Hebraica, concedeu o seguinte depoimento a VEJA.

Sobre Michel

“Hoje, meu pai é mais avô do que pai. É um avô muito presente. Como mora perto de minha casa, vem todas as semanas brincar com meus filhos. Se senta no chão, como se fosse uma criança. Todos os seus amigos dizem isso. É como uma criança de 59 anos. Ele gosta de fazer piadas com todos, de fazer coisas divertidas. Sempre me ajuda. Se preciso de algo, é meu pai que eu chamo. E ele atende.”

Saudades

“A princípio, não contei para os meus filhos, de 7, 5 e 2 anos, sobre o desaparecimento do avô deles. Mas, com o tempo, senti que precisava dizer alguma coisa. Começaram a me perguntar muito sobre ele e ficaram aflitos com sua ausência, então foi necessário explicar um pouco a situação para que ficassem mais tranquilos. Falei que havia uma guerra lá fora, e que o avô deles estava em um lugar que não era seguro. Que não conseguia entrar em contato com ele, mas que havia muita gente nos ajudando a encontrá-lo. E jurei que, assim que houvesse alguma informação nova, iria contar a eles. No entanto, isso não os acalmou. Continuam me perguntando sobre o avô a toda hora, chamam por ele. Quando saí para esta viagem, esta turnê pela Argentina, Uruguai e Brasil, contei que ia visitar o país onde nasceu o avô deles, para o qual nunca tinha vindo, e disse que ia conversar com pessoas que poderiam ajudá-lo. Meu filho de 5 anos me perguntou: ‘Você vai obrigar que devolvam nosso avô?’ E tive que responder: ‘Se eu pudesse, o faria. Mas não posso’.”

O poder de uma história

“Para continuar vivendo em meio a este pesadelo, preciso falar. Falo muito. Para quem quer escutar, eu falo. É vital deixar esse tema dos sequestrados sobre a mesa. Se pusermos o assunto de lado por um minuto, pode desaparecer do foco. Então trato todo o tempo de contar e escutar as histórias dos reféns. Em Israel, às vezes, com tudo o que está passando, em meio a tantas mortes, a constantes baixas de soldados, é difícil manter esse tema vivo, porque o coração não pode lidar com tanto sofrimento ao mesmo tempo. Mas quero acreditar que o governo israelense está fazendo tudo o que pode, e mais, para trazer meu pai e todos os reféns de volta para casa. Ele precisa voltar, porque tem muita coisa que eu ainda não disse…”

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Esperança

“Em relação ao Brasil, não sei avaliar se os esforços do governo foram maiores para resgatar brasileiros de Israel e de Gaza do que para resgatar meu pai. Mas preciso pensar em meu coração que são iniciativas equivalentes. Se não pensar assim, não vai sobrar nenhuma esperança. E preciso dela para sair da cama todos os dias e seguir com meu ativismo. Não importa para mim quanto tempo demorou para o governo Lula reconhecer que havia um brasileiro entre os desaparecidos. Se esses dois meses que foram, ou mesmo se tivesse sido só uma semana. Basta que hoje podemos estar aqui e todos estão falando sobre ele. Sinto que assim fiz minha parte.”

A dor e o belo

“O pior que poderia ter acontecido, aconteceu. E não acabou. Mas vamos sair dessa, porque não há outra alternativa. Acredito que meu pai não gostaria que eu ficasse em casa, chorando, com a vida em stand-by. Tenho confiança de que ele vai voltar para casa e então contarei tudo o que fizemos para trazê-lo de volta. Todos têm que escutar sobre o que aconteceu no dia 7 de outubro. Aconteceu conosco, mas pode acontecer com qualquer pessoa no mundo. É como o Holocausto: se não falarmos sobre essa tragédia, abrimos espaço para que pessoas questionem se, de fato, aconteceu, como ocorre até hoje. O que passamos nesses meses foi um pesadelo. Não tem dia ou noite que a cabeça não esteja a mil. Não tem mais lugar no corpo para dor. Mas, ao mesmo tempo, a união que isso gerou entre o povo judeu e todo mundo que se sensibilizou tem sua beleza.”

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