O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou nesta terça-feira, 5, a proibição de visto americano a colonos israelenses que atacaram palestinos na Cisjordânia, território controlado militarmente por Israel. A restrição, que também foi aplicada a palestinos que participaram de agressões contra israelenses, impede que os envolvidos entrem nos Estados Unidos – uma sanção que poderá ser estendida à família imediata daqueles acrescentados à lista proibida.
A decisão é reflexo da guerra entre Israel e o grupo palestino radical Hamas, iniciada em outubro, e compreende que as medidas implementadas por Tel Aviv foram insuficientes para prevenir a violência entre civis. É a primeira vez desde a presidência de Bill Clinton (1993-2001) que o governo americano impossibilita a obtenção de vistos para os considerados extremistas. No comando da Casa Branca, Clinton chegou a cancelar o visto do ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper, pelo seu envolvimento com o narcotráfico.
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O artigo de Joe Biden
Em novembro, o presidente americano, Joe Biden, publicou um artigo de opinião em que traça paralelos entre a guerra na Ucrânia, eclodida em fevereiro do ano passado, e o conflito contra o Hamas. O democrata apontou que tanto a Rússia quanto os radicais palestinos procuram “varrer do mapa uma democracia vizinha” e que a “América não pode e não permitirá que isso aconteça” pelos seus “próprios interesses de segurança nacional – e para o bem do mundo inteiro”.
“Como será o nosso mundo do outro lado destes conflitos?”, escreveu. “Negaremos ao Hamas a capacidade de praticar o mal puro e não adulterado? Será que um dia os israelitas e os palestinianos viverão lado a lado em paz, com dois Estados para dois povos?”
Ao longo do texto, Biden defende que a Cisjordânia e o enclave palestino “sob uma única estrutura de governação” e que “é imperativo que nunca mais nenhuma ameaça terrorista emane de Gaza ou da Cisjordânia”. Ele também adiantou o anúncio desta terça-feira sobre a sanção contra os vistos.
“Tenho sido enfático com os líderes de Israel no sentido de que a violência extremista contra os palestinos na Cisjordânia deve acabar e que aqueles que cometem a violência devem ser responsabilizados”, acrescentou. “Os Estados Unidos estão preparados para tomar as suas próprias medidas, incluindo a proibição de vistos contra extremistas que atacam civis na Cisjordânia.”
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Preocupação com a Cisjordânia
Durante o comunicado, o secretário de Estado, Antony Blinken, afirmou que os Estados Unidos “se opuseram consistentemente às ações que minam a estabilidade na Cisjordânia”, comandada pela Autoridade Palestina. Em seguida, ele destacou “a necessidade de fazer mais para responsabilizar os colonos extremistas que cometeram ataques violentos contra os palestinos” no país e adiantou que os EUA “continuarão a dialogar” sobre o papel de Tel Aviv no controle das agressões.
“Tanto Israel como a Autoridade Palestiniana têm a responsabilidade de defender a estabilidade na Cisjordânia”, acrescentou.
Além disso, Blinken informou que levou os questionamentos a Israel, durante sua viagem ao país na semana passada. Ele disse, ainda, que participou de reuniões com o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, e do ministro da Defesa, Yoav Gallant, sobre o assunto. Para evitar o aumento das críticas de Washington, o embaixador israelense nos EUA, Mike Herzog, entregou ao Departamento de Estado e à Casa Branca um documento sobre o número de ataques a partir da declaração de guerra, incluindo as medidas implementadas pelo premiê para contê-los.
Segundo a administração Biden, a Casa Branca tem demonstrado preocupações, nos últimos três anos, sobre a escalada de violência por parte de israelenses. A eclosão do conflito contra o Hamas colocou, contudo, as advertências americanas no centro dos holofotes.