Os Estados Unidos pressionam o Brasil para garantir a segurança na entrega de ajuda humanitária aos venezuelanos no sábado, 23. A escalada da tensão com o presidente, Nicolás Maduro, que acusa os americanos de usarem os carregamentos como desculpa para tramar um golpe de Estado, aumentou ontem após a decisão venezuelana de fechar a fronteira com Roraima.
Reconhecido como presidente interino da Venezuela por Estados Unidos, Brasil e cerca de 50 países, o líder opositor Juan Guaidó transformou o sábado em uma espécie de “Dia D” da luta contra o chavismo. O envio de ajuda humanitária deve testar a lealdade dos militares a Maduro e forçar defecções.
Segundo fontes no Departamento de Estado americano, Washington negocia com Brasil e Colômbia, que servem de centros de distribuição de comida e medicamentos, as “disposições adequadas” para a entrega. A principal delas é a segurança da operação.
“Precisamos assegurar que aqueles que recebem nossa ajuda, nossos parceiros e nossas equipes não serão colocados em perigo, que a assistência dos EUA possa chegar à população vulnerável”, disse uma fonte do setor de assuntos hemisféricos do Departamento de Estado americano.
Até o momento, o Brasil descartou a possibilidade de ação militar de qualquer forma em todas as reuniões sobre a Venezuela. Quando esteve em Washington para conversas com autoridades americanas, no início do mês, o chanceler Ernesto Araújo negou a existência de qualquer ação militar na Venezuela, mas não deu detalhes sobre a logística de entrega da ajuda humanitária.
O vice-presidente Hamilton Mourão também reforçou que o Brasil não tem intenção de entrar na Venezuela sem autorização nesta quinta-feira 21.
“O governo brasileiro já deixou claro que a nossa ação será sempre no sentido da não intervenção no assunto interno e apenas manteremos a pressão política e as palavras junto aos demais países que estão cooperando num esforço para que a Venezuela retome um caminho de democracia”, disse.
O general afirmou ainda que que não há outra solução para a crise na Venezuela a não ser a saída do presidente do país, Nicolás Maduro.
Mourão irá à Colômbia na próxima segunda-feira, 25, para representar o Brasil na reunião do Grupo de Lima, que reúne 14 países. O encontro em Bogotá será comandado pelo presidente colombiano, Iván Duque, e terá a presença do vice-presidente norte-americano, Mike Pence. O principal tema a ser tratado pelos líderes será a crise venezuelana.
Pressão
Ontem, depois do anúncio de Maduro sobre o fechamento da fronteira com o Brasil, os Estados Unidos continuaram com a estratégia de fazer pressão sobre os militares venezuelanos para que não impeçam a entrada da ajuda.
“Pedimos às forças de segurança venezuelanas que permitam que esses suprimentos entrem no país”, afirmou um integrante da diplomacia americana.
Em discurso em Miami, na segunda-feira 18, o presidente Donald Trump deu um ultimato aos militares da Venezuela. Se não permitirem a entrada de mantimentos, “perderão tudo” – em referência às fortunas que funcionários chavistas têm no exterior. “Não encontrarão refúgio, nenhuma saída fácil, porque não haverá saída”, disse Trump.