Após o anúncio da retirada parcial de tropas russas das fronteiras com a Ucrânia, autoridades ocidentais se posicionaram nesta terça-feira, 15, indicando que a declaração ainda precisa ser verificada em campo.
De acordo com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, os dados da inteligência mais recentes sobre a presença militar russa criam “sinais mistos”.
“Vemos a abertura russa para conversas. Do outro lado, a inteligência que temos hoje ainda não é encorajadora”, disse a repórteres.
Segundo ele, “vemos hospitais de campanha russos sendo construídos perto da fronteira com a Ucrânia, em Belarus, para o que pode ser construído apenas para uma preparação para uma invasão”. Além disso, “há grupos táticos na realidade chegando mais perto da fronteira com a Ucrânia”, de acordo com o premiê.
Como forma de aliviar as tensões e de criar uma garantia ao Reino Unido e outros líderes, Johnson disse que é preciso ver um “programa de desescalada”enviado pela Rússia.
Por parte de Washington, a embaixadora americana para a Organização do Tratado do Atlântico Norte, Julianne Smith, afirmou que os EUA estão “monitorando a situação” e ainda “irão verificar” as afirmações de uma possível desmobilização.
Em entrevista à imprensa em Bruxelas, Smith destacou que Moscou já havia feito uma declaração similar em novembro, que, no entanto, se mostrou enganosa. “Quando fomos verificar, não encontramos sinais. E, desde então, só vimos as forças russas se movendo em direção oposta”.
Para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, “há sinais vindos de Moscou de que a diplomacia deve continuar”, mas, até o momento, “não vimos nenhum sinal de desescalada no território”.
Stoltenberg, contudo, garantiu que Moscou ainda tem tempo para recuar e “deixar de se preparar para uma guerra e começar a trabalhar por uma solução pacífica”. “O que precisamos ver é uma retirada significativa e duradoura, não apenas de tropas, mas também de equipamentos pesados”, afirmou o norueguês.
Em comunicado nesta terça-feira, o governo da Rússia anunciou a decisão de retirar algumas tropas militares da fronteira com a Ucrânia. De acordo com o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, diversas unidades já “completaram suas missões” de realizar treinamentos planejados na região.
O anúncio, no entanto, não especifica quantos soldados voltarão às bases permanentes, apenas que “unidade dos distritos militares do sul e oeste que completaram suas missões já começaram a embarcar” para as guarnições.
De acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, há, atualmente, mais de 127.000 soldados russos posicionados perto de seus limites. A Rússia cercou o norte do país vizinho, onde a fronteira é mais desguarnecida, posicionando seu Exército como uma ferradura, cercando a região por três lados, incluindo em territórios de Belarus, de quem é aliada.
Por esse motivo, o minsitro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, expressou dúvidas sobre a declaração.
À imprensa, disse que “várias afirmações estão sendo feitas constantemente pela Federação Russsa, então já temos uma regra: ‘Não ouça e então acredite. Ao invés disso, veja e então acredite'”.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma confirmação terá consequências graves. Segundo Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A Aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.