A relação entre China e Estados Unidos se torna cada vez mais tensa, em meio a acusações de espionagem e desentendimentos sobre direitos humanos e segurança nacional. Nesta quarta-feira, 22, Washington agravou ainda mais a situação ao ordenar de forma abrupta o fechamento do consulado chinês em Houston, no Texas. Segundo afirmou uma porta-voz do Departamento de Estado, a decisão foi tomada “para proteger a propriedade intelectual americana e as informações privadas dos americanos”.
“A Convenção de Viena diz que os diplomatas de Estado devem ‘respeitar as leis e as regras do país anfitrião’ e ‘têm o dever de não interferir nos assuntos internos desse Estado'”, afirmou a porta-voz Morgan Ortagus, durante visita do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, a Copenhague.
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Clique e AssineA decisão tem como pano de fundo as tensões crescentes entre os dois países em várias frentes: a polêmica lei sobre a segurança nacional em Hong Kong, as acusações de espionagem contra a China e a situação humanitária na região de Xinjiang (ao noroeste da China), onde vive a minoria muçulmana uigur.
“Os Estados Unidos não vão tolerar qualquer violação da nossa soberania, nem intimidação do nosso povo por parte da China, como tampouco toleramos as práticas comerciais injustas, o roubo dos empregos americanos e outros comportamentos. O presidente Trump insiste na justiça e na reciprocidade em nossas relações com a China”, acrescentou a porta-voz, em uma declaração à imprensa.
A China tem cinco consulados nos Estados Unidos. O de Houston foi aberto em 1979. Segundo jornais locais, os bombeiros foram acionados e foram ao consulado na terça-feira à noite porque documentos estavam sendo queimados no pátio do edifício. No Twitter, a polícia local disse que se via fumaça, mas que as forças da ordem “não receberam autorização para entrar” no prédio.
Reação chinesa
As autoridades chinesas denunciaram a decisão, a qual classificaram de “provocação política” que prejudicará as relações diplomáticas bilaterais. “É uma provocação política (…) que viola gravemente o direito internacional”, denunciou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin.
“A China condena esta decisão escandalosa e injustificada”, disse Wenbin, pedindo que Washington recue, em caso contrário, Pequim responderá da maneira “adequada”.
As autoridades chinesas acusaram os Estados Unidos de “calúnias”, depois que dois cidadãos do gigante asiática foram indiciados por ciberataques a empresas envolvidas na busca de uma vacina contra o novo coronavírus. O Departamento americano de Justiça anunciou ontem a acusação contra Li Xiaoyu, de 34 anos, e Dong Jiazhi, de 33, “dois hackers chineses (que) trabalhavam com o Ministério chinês da Segurança”.
Pequim refutou as acusações. “O governo chinês é um fervoroso defensor da segurança cibernética e sempre se opôs a ataques cibernéticos”, acrescentou o porta-voz, exortando Washington a “acabar com essas calúnias e difamações” contra a China.
Segundo as autoridades americanas, os dois hackers se conheceram durante seus estudos de engenharia e roubaram segredos industriais avaliados em milhares de dólares ao longo de dez anos. Recentemente, teriam tomado como alvo empresas da Califórnia que trabalham na busca de uma vacina e de um tratamento para o novo coronavírus, de acordo com o promotor federal responsável pelo caso, William Hyslop. Li e Dong não foram detidos e estariam na China hoje.
O governo do presidente Donald Trump mantém há meses um tom muito crítico em relação às autoridades chinesas, as quais acusa de terem escondido a magnitude da propagação da Covid-19 desde o surgimento da doença no centro do país, no final de 2019.
(Com AFP)