Os Estados Unidos estão em negociação com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que teve vitória proclamada nas eleições em julho, para abandonar o poder em troca de uma anistia. A informação foi divulgada neste domingo 11 pelo jornal americano The Wall Street Journal. Com o perdão, o líder venezuelano e aliados deixariam de enfrentar acusações de tráfico de drogas e narcoterrorismo pelo Departamento de Justiça americano.
A reportagem indicou que o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, havia colocado “tudo na mesa” para tentar convencer Maduro a permitir uma transição política, que colocaria na presidência Edmundo González, o candidato que a oposição diz ter vencido o pleito, antes mesmo do fim do mandato atual, em janeiro de 2025. A Casa Branca também estaria disposta a apresentar garantias de que não pediria a extradição de funcionários do governo venezuelano, bem como de Maduro, para território americano.
“Estamos considerando uma variedade de opções para incentivar e pressionar Maduro a reconhecer os resultados das eleições e continuaremos a fazê-lo, mas a responsabilidade recai sobre Maduro e as autoridades eleitorais da Venezuela para esclarecer os resultados eleitorais”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, sob condição de anonimato, ao jornal.
As negociações fazem referência ainda à recompensa de US$ 15 milhões (cerca de R$ 82 milhões na cotação atual) oferecida por Washington, em 2020, por informações que levassem à prisão do presidente da Venezuela por conspiração para traficar cocaína aos Estados Unidos. Brasil, México e Colômbia, cujos governos são conhecidos pela proximidade com Maduro, estão envolvidos nas tratativas para resolver o impasse eleitoral e estariam sendo pressionados por autoridades americanas a aderir uma posição mais dura contra o aliado, segundo o WSJ.
Na semana passada, o Panamá entrou no circuito de países que oferecem caminhos para Maduro sair do poder de maneira pacífica. O presidente panamense, José Raúl Mulino, disse que estaria disposto ao “sacrifício” de oferecer asilo para o seu homólogo venezuelano para garantir uma transição. Por sua vez, a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, propôs ao chavista uma “negociação para a transição democrática” que “inclui garantias, salvo-condutos e incentivos”, sem dar detalhes.
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Futuro incerto
Não é a primeira vez que os Estados Unidos dão o braço a torcer a Maduro. No ano passado, ofereceram anistia ao venezuelano durante conversas a portas fechadas em Doha, no Catar. Apesar disso, o líder bolivariano não mostra qualquer sinal de que está disposto a ceder. Na última sexta-feira, ele apelou aos Estados Unidos para que “não se intrometam nos assuntos internos da Venezuela”.
O futuro da Casa Branca, a ser definido nas eleições presidenciais em novembro, também pode colocar em xeque as negociações, já que a vitória do ex-presidente Donald Trump poderia significar o retorno de políticas anti-Maduro. Em 2019, Trump apoiou o autoproclamado presidente Juan Guaidó e impôs sanções ao setor petrolífero país. O contato de Biden com Maduro para tentar reverter a situação na Venezuela pode, inclusive, ser utilizado na campanha republicana para criticar Kamala Harris, vice-presidente americana e candidata do Partido Democrata.
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Por que a oposição contesta o resultado?
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão federal controlado pela ditadura, apontou a reeleição Maduro com 51% dos votos, contra 44% de González, que substituiu María Corina, vencedora das primárias da oposição, após ser inabilitada pelo regime chavista. Em contraste, levantamentos de boca de urna sugeriram que o rival de Maduro teria vencido o pleito com 65% de apoio, contra apenas 31% do líder bolivariano.
Uma projeção da oposição com base em 80% dos boletins de urna que conseguiram obter mostrou resultado semelhante. O principal ponto de questionamento da oposição e da comunidade internacional é que o regime não divulgou os resultados na totalidade, sem a publicação das atas das zonas eleitorais – relatórios que reúnem informações de cada centro de votação.
Em coletiva de imprensa na semana passada, Maduro acusou a comunidade internacional de tentar mergulhar a Venezuela “em uma guerra civil outra vez” e criticou o Ocidente por não aceitar que país tem “outra realidade” e “direitos independentes e soberanos”. Sem mostrar evidências para embasar vitória, questionou: “Quantas provas mais temos que apresentar para que vocês digam ‘já basta’?”.