Legisladores dos Estados Unidos pediram ao Google nesta sexta-feira, 17, para consertar os resultados de busca relacionados a aborto, indicando informações precisas ao invés de redirecionar os resultados para “centros de gravidez em crise”, que na prática são clínicas antiaborto. O pedido foi feito através de uma carta, cujos principais nomes eram do senador Mark Warner e da deputada Elissa Slotkin, ambos do Partido Democrata.
O documento foi motivado por um estudo divulgado na última semana pela organização sem fins lucrativos Center for Countering Digital Hate. A pesquisa aponta que 11% dos resultados de busca em alguns estados para “clínica de aborto perto de mim” ou “pílula de aborto” direcionam o usuário para centros que se opõem ao procedimento.
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A pesquisa foi realizada nos 13 estados que recentemente aprovaram leis que tornam a prática ilegal. Os EUA estão propensos a adotar a proibição caso a Suprema Corte decida derrubar Roe vs. Wade, uma deliberação de 1973 que garantiu a interrupção voluntária da gravidez no país por quase meio século.
A nova resolução, se oficializada, pode fazer com que a legalidade do aborto passe a depender exclusivamente dos estados. A decisão final do Tribunal está prevista para junho.
O aborto está entre uma série de direitos fundamentais que o tribunal americano reconheceu, pelo menos em parte, como liberdades processuais “substantivas”, incluindo a contracepção, em 1965, o casamento inter-racial, em 1967, e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2015.
O Google se recusou a comentar sobre a carta, porém disse que “a empresa está sempre tentando procurar maneiras de melhorar os resultados para ajudar as pessoas a encontrar o que estão procurando”. Além de Warner e Slotkin, outros 13 senadores e seis deputados assinaram o documento, todos democratas.
Os centros clandestinos de gravidez que existem pelo território americano refletem os desacordos a respeito do direito ao aborto nos Estados Unidos, com alguns deles sendo acusados de fornecer informações imprecisas sobre o procedimento, o que pode comprometer não só o acesso a ele mas também a saúde das mulheres.
“O Google não deveria exibir clínicas falsas anti-aborto ou centros de gravidez em crise. Se a empresa decidir por continuar a mostrar esses resultados enganosos, eles devem, no mínimo, ser rotulados adequadamente”, diz um trecho da carta.
A gigante da tecnologia lida com outras questões de saúde de maneira diferente. As pesquisas sobre suicídio ou agressão sexual, por exemplo, são encabeçadas por uma lista com curadoria de recursos e fontes confiáveis.
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A organização responsável pelo estudo descobriu ainda que 28% dos anúncios do Google Ads, serviço de publicidade da plataforma, são sobre centros clandestinos de aborto, enquanto 37% dos resultados apontam endereços diretamente no Google Maps.
Por fim, o documento aponta ainda que muitos locais de risco que aparecem nos resultados de busca não tinham isenção de responsabilidade.