Em meio a um Parlamento dividido, o conservador Partido Popular (PP) e o governista Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) iniciaram nesta terça-feira, 25, negociações para reverter o impasse provocado pelas eleições espanholas no último domingo, quando ambos os grupos fracassaram em formar maioria parlamentar, adquirida com 176 legisladores. Aliado do ultradireitista Vox, o PP conseguiu 169 assentos, contra os 153 da coalizão de esquerda PSOE-Sumar, que recebeu um número de votos superior ao esperado.
Apesar de brandar uma vitória “indiscutível” no domingo, o líder do Partido Popular e candidato a primeiro-ministro, Alberto Núñez Feijóo, enfrentará obstáculos para captar o número restante de deputados. Pesquisas divulgadas às vésperas da eleição indicavam que PP e Vox, conhecido por pautas anti-imigração e antifeministas, obteriam 140 e 36 assentos, respectivamente, alcançando a maioria parlamentar.
A realidade não atendeu aos desejos de Feijóo: os partidos receberam apenas 136 e 33 cadeiras, número incapaz de formar um novo governo. Para superar o impasse, o candidato da oposição precisaria se aliar a outros pequenos partidos, mas a proximidade à extrema-direita pode frustrar os planos, uma vez que alguns partidos de centro recusam qualquer forma de associação ao ultraconservador Vox.
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“Iniciei as negociações levando em conta que os espanhóis decidiram não dar a maioria absoluta a ninguém”, disse Feijóo. “Não seremos reféns de ninguém”.
A União Popular de Navarra (UPN), com um assento, é o único outro partido de centro-direita que pretende apoiar a candidatura de Feijóo. A regionalista Coalizão Canária, que também conta com um parlamentar, governa nas Ilhas Canárias junto com o PP, mas rejeitou publicamente o discurso do Vox.
As pesquisas, além disso, apontavam que o PSOE, partido do primeiro-ministro Pedro Sánchez, receberia 108 lugares. O número seria somado aos 25 a 39 previstos para o Sumar, contabilizando, no máximo, 148 assentos – 28 deputados a menos para atingir a maioria no Parlamento. Com resultados positivos, PSOE ganhou 122 cadeiras, e seu aliado de extrema-esquerda, 31.
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Acredita-se que o premiê espanhol empregará uma estratégia similar as das eleições de 2019, quando buscou apoio de partidos separatistas bascos e catalães. O partido separatista esquerdista Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), com sete assentos, e o radical Juntos pela Catalunha (Junts), também com sete, seriam caminhos para solucionar a sinuca eleitoral. O Junts, contudo, não apoia o atual governo há quatro anos.
O futuro de Sánchez pode estar, então, na mão do ex-presidente do governo regional catalão e líder do Junts, Carles Puigdemont, em exílio autoimposto na Bélgica desde 2017, quando liderou uma tentativa separatista da Catalunha. O secretário-geral do partido, Jordi Turull, está entre os nove líderes separatistas catalães perdoados pelo primeiro-ministro espanhol em 2021, enquanto Puigdemont ainda aguarda julgamento.
O fracasso nos acordos de ambos os blocos levaria a uma segunda eleição, prevista para a época do Natal, de acordo com a Eurointelligence.