Em palestra no Heritage Foundation, principal centro de estudos conservador de Washington, o chanceler Ernesto Araújo declarou que os temas de justiça social e de mudança do clima são “pretextos para a ditadura” e insistiu que não é o Brasil, mas “os incêndios que estão queimando a Amazônia“. Tratou também de seu tema favorito: o globalismo.
“Justiça social é só um pretexto para a ditadura. O clima (mudança climática) também é”, afirmou Araújo, que pela primeira vez expôs suas ideias na capital americana na condição de ministro das Relações Exteriores.
O ministro mencionou o filósofo italiano Antonio Gramsci, a teórica polonesa-alemã Rosa de Luxemburgo, o dramaturgo alemão Bertold Brecht, os ideólogos da Escola de Frankfurt, o psicanalista francês Jacques Lacan e o próprio ditador soviético Josef Stalin para dar corpo a seu discurso contra a globalização e o marxismo cultural. Chegou, por fim, a Patrick Michaels, pesquisador de meio ambiente do Cato Institute que se contrapõe a centenas de cientistas de alto nível do planeta sobre a mudança climática.
“Existe mudança climática? Existe. É feito por nós (humanos)? Não sabemos”, afirmou, para alegar que os modelos de computador que demonstram a relação entre o aquecimento global e a ação humana estão “errados”. “A Amazônia é o marco zero contra o globalismo e para a recuperação do ser humano”, completou.
Em 55 minutos de exposição, o ministro defendeu apenas um dos tópicos de interesse nacional – a soberania brasileira sobre sua parcela territorial da Amazônia. Nenhum outro foi mencionado em sua fala para uma plateia que contribui para a tomada de decisão nos círculos econômicos conservadores americanos. O chanceler não chegou nem mesmo a tratar da relação Brasil-Estados Unidos, o pilar da política externa do governo de Jair Bolsonaro.
Defendeu o presidente brasileiro, dizendo que “Bolsonaro está criando um amálgama liberal-conservador baseado na nação, família e vínculos tradicionais”, em oposição ao “globalismo”. Questionado mais tarde sobre como as pretensões do líder brasileiro em propor intervenções do Estado sobre a vida das pessoas, uma ambição distante do liberalismo e mais próxima do fascismo, o chanceler não conseguiu dar uma resposta com mínima clareza.
Araújo preferiu destilar para a plateia sua erudição em um discurso contra o globalismo, que definiu como “o mundo sem símbolos” e como a “globalização sequestrada pelo marxismo”. Mas não chegou desta vez, como em seu discurso de posse, a usar termos em latim, grego ou tupi.
“É o amálgama da economia globalizada com o marxismo cultural infiltrado em suas instituições”, resumiu ele, certamente ciente do fato de a globalização ter sido motivada especialmente pelos Estados Unidos.
Ideologia
O chanceler informou indiretamente a plateia que também os Estados Unidos estão contaminados pelo globalismo e pelo marxismo cultural, que estariam trabalhando pela destruição da indústria manufatureira e da base tecnológica do país. Essas ideologias de esquerda estariam também impregnadas na “ditadura do clima”, que “não aceita o debate”, em sua opinião. Da mesma forma, estaria presente no questionamento da soberania brasileira sobre a Amazônia.
Araújo, porém, entregou à plateia o remédio para esses “males”. “Só com a nação, a família e os vínculos tradicionais nós teremos um sistema capitalista funcional”, afirmou, depois de conclamar uma “insurreição universal contra essa m…”. “Os presidentes Bolsonaro e Donald Trump (dos Estados Unidos) são os únicos a lutar contra esse sistema”, disse em outro momento.
Para o chanceler brasileiro, a vanguarda socialista está associada na América Latina ao crime organizado. “No século XXI, Gramsci encontra o cartel das drogas”, declarou, referindo-se ao filósofo marxista italiano Antonio Gramsci, que desenvolveu a teoria da Hegemonia Cultural – a forma como as sociedades ocidentais capitalistas se valem das instituições culturais para se preservar no poder e controlar o proletariado.