As cenas de centenas de pessoas envoltas em fumaça e amontoadas para escapar pela escada de emergência de um avião no aeroporto de Haneda, em Tóquio, na terça-feira 2, chocaram pela intensidade do fogo que engolfava a aeronave e pelo milagroso saldo de sobreviventes: todos os 367 passageiros e doze tripulantes do voo da Japan Airlines escaparam com vida, sem ferimentos graves. As chamas foram produto de uma colisão, após uma derrapagem no pouso, com um cargueiro da Guarda Costeira que trafegava ali — neste caso, cinco dos seis tripulantes não resistiram ao acidente, dando novos contornos à tragédia, agora sob investigação. Seu destino era a costa oeste do país, para onde levariam suprimentos a vítimas de um terremoto de grandes proporções, que havia deixado um rastro de destruição na véspera, contabilizando mais de sessenta mortos até quinta-feira 4. “Eles estavam cheios de um nobre sentido de missão. É angustiante o que lhes aconteceu”, disse o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida. A sequência de eventos inesperados não parou por aí na virada de ano em solo japonês. A chacoalhada de magnitude 7,6 logo fez acender um alerta de tsunami, treze anos depois da triste devastação provocada pela fúria de ondas gigantes que tomaram a usina de Fukushima, um dos piores desastres nucleares de todos os tempos. Desta vez, felizmente, a potência das águas arrefeceu. Mesmo assim, registrou-se um providencial êxodo das áreas ainda sob risco de novos tremores. Ponto para a célere reação das autoridades locais, que conseguiram evitar drama pior neste início de 2024.
Publicado em VEJA de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874