O médico palestino-americano Thaer Ahmad abandonou, nesta terça-feira, 3, uma reunião com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca, segundo a emissora americana CNN. A vice-presidente, Kamala Harris, o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, outros funcionários do governo americano e líderes muçulmanos também participavam do encontro.
Morador de Chicago, Ahmad fez parte de uma equipe de médicos voluntários da MedGlobal, organização não governamental de caridade, enviada à Faixa de Gaza no início deste ano. Ele esteve alocado na cidade de Khan Younis, onde fica o Hospital Nasser, segundo maior complexo médico do enclave palestino — em fevereiro, o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que a instituição havia fechado as portas “depois de um cerco de uma semana seguido de um ataque contínuo” por Israel.
Em entrevista à CNN, ele informou que disse ao presidente que era decepcionante ser o “único palestino” no recinto e que “decidiu partir por respeito” aos seus compatriotas decidiu, entregando ao democrata uma carta de Haddel, órfa de 8 anos, de Rafah, cidade superpovoada em Gaza que entrou na mira de Israel nos últimos meses. O texto, visto pela emissora americana, dizia: “Eu imploro, presidente Biden, impeça-os [soldados israelenses] de entrar em Rafah”.
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Como Biden reagiu
Segundo Ahmad, Biden respondeu que entendia seu gesto. Na véspera ao climão, a CNN afirmou que a Casa Branca mudou o roteiro da reunião, que antes seria um jantar iftar, refeição em que o jejum diário do Ramadã é quebrado. A alteração ocorreu após os participantes expressarem desconforto em festejar enquanto milhares de palestinos são vítimas de bombardeios, passam fome e sofrem com doenças na Faixa de Gaza. Alguns até negaram o convite.
O médico, por sua vez, decidiu comparecer porque queria poder “se afastar dos políticos e diplomatas da mesma forma que eles estão se afastando” dos palestinos, explicou em entrevista à CNN.
Foi a primeira vez que Biden enfrentou um protesto do tipo no cerne de um encontro do governo, embora tenha sido alvo de manifestações e interrupções em eventos públicos a respeito da questão de Gaza.
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Apelo de Ahmad
Ahmad, que retornará ao enclave palestino nas próximas semanas, negou que o Hamas use hospitais e escolas como base militar, embora haja evidências de que isso tenha ocorrido. Ele também explicou que é “difícil” viver nos Estados Unidos enquanto pensa nas pessoas que estão sofrendo em Gaza.
“Gaza está se tornando inabitável. Quero dizer, não sobrou nada lá. Não há escolas e as pessoas vivem em tendas numa área muito apertada”, descreveu.
Segundo a CNN, funcionários do governo americano indicaram que Biden “deixou claro que lamenta a perda de todas as vidas inocentes neste conflito” e prometeu “continuar a trabalhar para garantir um cessar-fogo imediato como parte de um acordo para libertar os reféns e aumentar significativamente a ajuda humanitária a Gaza”.