Chamadas “fotos de família”, as imagens posadas de chefes de Estado obrigados a figurar em reuniões internacionais não costumam trazer nada além do que a expressão do tédio dissimulado por sorrisos e acenos. No encontro de líderes do Mercosul em Bento Gonçalves (RS), a fotografia oficial trouxe um retrato dos ventos ideológicos que ainda sopram no bloco.
Lado a lado, na imagem, o argentino Maurício Macri, o brasileiro Jair Bolsonaro e o paraguaio Mario Abdo Benítez, acenam com suas mãos direitas enquanto a miúda Lucía Topolansky, vice-presidente do Uruguai, ergue a esquerda. Eleita pela Frente Ampla, a coligação de esquerda que governa seu país desde 1999 e que faz parte do Foro de São Paulo, Topolansky representou no encontro do Mercosul o presidente Tabaré Vázquez, submetido a tratamento de câncer. Não perdeu a chance, naquele momento, de sublinhar sua própria coloração ideológica e a do governo que terminará daqui a dez dias.
Política de carreira no Uruguai, Topolansky é tão conhecida por seu ativismo e também por ser a mulher do mais emblemático líder esquerdista do país: o ex-presidente José Mujica, com quem convive há 34 anos. Ex-guerrilheira do movimento Tupamaro, que lutou contra a ditadura militar uruguaia nos anos 1970 e 1980, a atual vice-presidente foi mantida presa e sob tortura pelo regime ao longo de 13 anos.
As eleições na Argentina e no Uruguai deste ano, porém, mudarão os figurantes da foto oficial do próximo encontro do Mercosul, que se dará no Paraguai em meados de 2020. Mas as bandeiras ideológicas continuarão com os mesmos pesos. A vitória de Luis Lacalle Pou nas eleições uruguaias trará o aceno da direita. Bolsonaro e Benítez continuarão com os mesmos braços levantados. Mas a mão esquerda do peronista Alberto Fernández, que toma posse da Presidência argentina na terça-feira, 10, substituíra a de Topolansky.