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Em crise política, Haiti recorda 10 anos do terremoto que matou 200.000

País falhou na reconstrução e está sob risco de seu presidente, Jovenal Moise, governar por decreto a partir de segunda-feira

Por Da Redação
12 jan 2020, 11h07
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  • O Haiti recorda neste domingo, 12, as 200.000 vítimas do devastador terremoto ocorrido há exatos 10 anos desafiado por uma grave crise política. As eleições para a Assembleia Nacional previstas para novembro passado não ocorreram e, diante do fim do mandato dos atuais deputados na segunda-feira, 13, o impopular presidente Jovenel Moise terá a possibilidade de governar por decreto.

    O quadro de fragilidade política aumentou depois do maior abalo sísmico enfrentado pelo país, assim como a grave crise sociopolítica com origem anterior a 2020. No verão de 2018, os escândalos de corrupção envolvendo Moise e todos os governos pós-terremoto causaram uma reação forte e violenta da população.

    Presidente do Haiti, Jovenel Moise. 07/01/2020
    O presidente do Haiti, Jovenel Moise, popularidade baixa e suspensão de eleição parlamentar – 07/01/2020 (Chandan Khanna/AFP)

    Os protestos que paralisaram o país entre setembro e dezembro do ano passado foram protagonizados principalmente pelos jovens que vivem com poucas expectativas de trabalho em um país marcado pela crescente violência de gangues armadas. Mais da metade dos habitantes do Haiti tem menos de 30 anos de idade .

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    O abalo sísmico provocou ferimentos 300.000 pessoas. Entre as vítimas fatais estavam 21 brasileiros, entre os quais a médica brasileira Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança e irmã do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, e o representante civil da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), Luiz Carlos da Costa.  As sequelas da tragédia continuam presentes na vida dos haitianos, amargurados com os esforços fracassados de reconstrução e com a contínua instabilidade política do país.

    35 segundos

    Por cerca de 35 segundos, um terremoto de magnitude 7 na escala Richter transformou a capita do Haiti, Porto Príncipe, e as cidades vizinhas de Gressier, Leogane e Jacmel em ruínas. Mais de 1,5 milhão de haitianos ficaram desabrigados, deixando as autoridades da ilha e a comunidade humanitária internacional diante de um desafio colossal em um país desorganizado em várias frentes econômicas e sociais.

    “Foi uma década perdida, totalmente perdida”, resumiu o economista haitiano Kesner Pharel. “A capital não foi reconstruída, mas nossa má governança não é de responsabilidade exclusiva das autoridades locais. Em nível internacional, não vimos um mecanismo para administrar a ajuda, que permitisse ao país se beneficiar dela”.

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    Haitiana carrega garrafão de água em rua de Croix des Bouquets – 02/01/2020 (Chandan Khanna/AFP)

    Os bilhões de dólares prometidos pelos doadores internacionais nas semanas seguintes à catástrofe parecem ter desaparecido, alimentando a insatisfação dos sobreviventes, ainda hoje expostos aos mesmos perigos que existiam antes do terremoto.

    “Dez anos depois, vemos uma concentração ainda maior de pessoas na região metropolitana”, afirmou Pharel. “Se tivéssemos um terremoto da mesma magnitude, os resultados seriam os mesmos, já que não houve acompanhamento na maioria das casas reconstruídas. O país nunca foi reconstruído e estamos de volta ao ponto de partida”, completou.

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    O terremoto destruiu centenas de milhares de casas, além de prédios administrativos e escolas, sem mencionar 60% do sistema de saúde. O gabinete do então presidente René Preval chegou a despachar debaixo de uma árvore, diante do temor de desabamento da sede do governo.

    Uma década depois, a reconstrução do principal hospital do país permanece incompleta, e as organizações não-governamentais lutam para compensar as muitas deficiências do Estado.

    “Após o terremoto, vimos um grande fluxo de casos de traumas múltiplos, com um grande número de feridas. Agora, tivemos de reabrir o centro de trauma, embora as lesões não tenham a mesma origem e, infelizmente, mais de 50% dos atuais feridos que vemos sejam vítimas de tiros”, disse Sandra Lamarque, chefe da missão dos Médicos Sem Fronteiras no Haiti.

    (Com AFP)

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