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Em clima de campanha, Bolsonaro exalta governo e ataca a esquerda na ONU

O presidente brasileiro discursou na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas

Por Amanda Péchy
Atualizado em 21 set 2022, 06h11 - Publicado em 20 set 2022, 11h21
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  • O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) discursou nesta terça-feira, 20, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em fala que mais se assemelhou a um discurso de campanha.

    Durante pelo menos 15 minutos, Bolsonaro listou o que descreveu como uma série de conquistas de seu governo. Abordando a pandemia de Covid-19, ele afirmou que o Brasil foi um exemplo para o mundo, tanto pelo aspecto do auxílio emergencial para famílias vulneráveis quanto pelo programa de vacinação.

    “Da perspectiva do meu país, quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia de Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos”, disse.

    O presidente brasileiro declarou que o governo ofereceu auxílio financeiro emergencial para mais de 60 milhões de pessoas e lançou um programa de vacinação massiva, e agora 80% dos brasileiros estão vacinados – “todas as pessoas vacinadas voluntariamente”, ele frisou. Deixou de fora, é claro, a CPI da Covid e os esforços para favorecer medicamentos sem comprovação científica em vez de imunizantes, que demorariam a ser fabricados.

    Em clima de eleição, também tocou no tema da corrupção, afirmando que “desenraizamos a corrupção sistêmica no Brasil”. Bolsonaro ainda atacou a oposição ao citar a operação Lava-Jato e os escândalos da Petrobras, que, como ele disse, “ocorreram enquanto a esquerda governava o país”.

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    “O responsável por isso foi condenado em três instâncias”, em referência a Lula (PT).

    Ele também citou indiretamente outros líderes da esquerda de forma negativa, como fez durante os debates eleitorais. Elogiando a postura do Brasil na recepção de refugiados, afirmou que “mais de 6 milhões de irmãos venezuelanos foram obrigados a deixar seu país”, em crítica velada a Nicolás Maduro, e afirmou que o Brasil estava disposto a receber os padres e freiras que sofrerem perseguição religiosa na Nicarágua de Daniel Ortega.

    Economia

    “Esse é o Brasil do passado”, disse Bolsonaro sobre a cena de corrupção que descreveu, citando a Lava-Jato. Segundo ele, desde 2019 (início de seu mandato), o país se desenha como “o país mais avançado digitalmente” (citando investimentos na tecnologia 5G), que investe em infraestrutura “inovadora” (seu exemplo foi a transposição do Rio São Francisco, iniciada no governo petista e finalizada no seu) e amigável ao investidor.

    Exaltando outros feitos de seu governo, o presidente afirmou que esteve comprometido com um “esforço para modernizar a economia brasileira”, dando como exemplos a lei de liberdade econômica e a lei de startups.

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    Também pontuou que a economia está “em plena recuperação, com emprego em alta e inflação baixa”. É verdade que o Brasil caminha para a eleição presidencial de outubro com desemprego menor e mais vagas de trabalho do que em 2018, quando ocorreu a última disputa nas urnas. A inflação acumulada, porém, dobrou desde então, e a renda real do trabalhador encolheu em meio aos impactos da pandemia.

    “Gozamos da tranquilidade de quem está no caminho certo. Apostamos na prosperidade dentro do país e com nossos aliados”, disse Bolsonaro.

    Sustentabilidade

    Muito criticado por sua gestão ambiental, Bolsonaro usou o palanque da Assembleia Geral para responder a acusações contra seu governo. Segundo ele, o Brasil é “fonte de credibilidade” e “referência” no campo do desenvolvimento sustentável.

    “O Brasil faz parte da solução do problema. Dois terços do país permanecem intocados, inclusive a Amazônia, ao contrário do que é noticiado na mídia nacional e internacional”, afirmou.

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    O presidente declarou ainda que a transição energética do Brasil foi precoce e se iniciou após os choques do petróleo na década de 1970. A matriz energética do país é, de fato, uma das mais verdes do mundo – cerca de 40% vem de fontes consideradas “limpas”. No entanto, a maior parte das emissões de gases do efeito estufa brasileiras é proveniente do desmatamento e da destruição de florestas.

    Perspectivas da Assembleia Geral

    A Assembleia terá como foco os muitos desafios enfrentados pelas nações neste ano: um conflito armado de enormes proporções que está mexendo com a ordem mundial como não se via desde a Guerra Fria; o impacto do aumento do preço dos alimentos para a população global; a crise energética que abala os alicerces da economia mundial; e o impacto das mudanças climáticas no mundo. 

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    Em fala a repórteres na semana passada, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o planeta está “arruinado pela guerra, castigado pelo caos climático, marcado pelo ódio e envergonhado pela pobreza, fome e desigualdade”, complementando que o evento acontece em um momento de “grande perigo” para todos. 

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    “Sinto que ainda estamos muito longe da paz. Acredito que a paz é essencial, paz de acordo com a Carta das Nações Unidas e com o direito internacional, mas estaria mentindo se dissesse que isso pode acontecer em breve”, afirmou ele. 

    Apesar da fala pessimista, Guterres disse que espera que a reunião forneça esperança por meio do diálogo, debates e planos concretos para superar divisões e crises. Cerca de 157 líderes mundiais e representantes de governos devem discursar ao longo do evento, que termina no próximo domingo, 25.

    O principal tema dos discursos provavelmente será a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro. Já nesta terça, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falará à Assembleia em um discurso pré-gravado. A prática não é permitida, mas uma votação na última sexta-feira permitiu que o líder ucraniano realizasse seu discurso dessa forma. 

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    Do outro lado do conflito, o presidente russo Vladimir Putin não irá a Nova York. Em seu lugar estará o chanceler Sergey Lavrov, que até o último momento não sabia se poderia entrar nos Estados Unidos – ele é alvo de uma série de sanções impostas por Washington. 

    Lavrov, inclusive, recebeu prestígio mundial justamente durante seu período como embaixador na entidade (cargo que ocupou por dez anos) e ficou conhecido por se relacionar bem com as outras autoridades.

    Outro ponto de suma importância para esse encontro da Assembleia Geral é a crise alimentar, agravada pelo conflito na Ucrânia. É esperado que países em desenvolvimento na África, Oriente Médio e Ásia expressem preocupações com o fato de toda a ajuda humanitária estar sendo direcionada aos ucranianos e que suas próprias estejam sendo ignoradas.

    Além disso, Putin voltou a ameaçar fechar os portos ucranianos responsáveis por transportar os grãos da Ucrânia para o resto do mundo. É esperado, portanto, que um novo acordo aconteça no encontro, uma vez que o próprio Guterres tem se envolvido nas negociações. 

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    Estão programadas para a Assembleia também uma série de reuniões em cúpulas e encontros bilaterais entre os países, que vão abordar desde educação até a pandemia de Covid-19. O próprio Guterres também sediará duas delas com a presença de ministros das Relações Exteriores, que devem tratar dos desafios trazidos pela guerra na Ucrânia e do desafio das mudanças climáticas. 

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    Por fim, o evento da ONU marcará a estreia de uma série de líderes mundiais que chamaram atenção no cenário internacional ao longo do último ano, como o presidente do Chile, Gabriel Boric, que foi tratado como uma estrela na Cúpula das Américas, e o presidente das Filipinas, Ferdinand Bongbong Marcos Junior, filho do ditador Ferdinando Marcos. 

    Em contrapartida, chefes de Estados proeminentes na comunidade internacional enviarão membros e delegações nacionais em seus lugares. Além de Putin, o líder chinês Xi Jinping e o presidente indiano Narendra Modi não comparecerão à Assembleia pessoalmente.

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