Em Buenos Aires, chanceler acerta visita de Bolsonaro à Argentina
Viagem não será fácil para presidente brasileiro, que defende a ditadura militar, e pode ferir imagem de Macri, em campanha para reeleição
O governo brasileiro finalmente fez um gesto em prol da aproximação com a Argentina. Em visita a Buenos Aires, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi recebido nesta quarta-feira, 10, pelo presidente Mauricio Macri, com quem acertou os detalhes de possível visita de Estado do presidente Jair Bolsonaro ao país. A data, porém, não foi marcada.
Tradicionalmente, a viagem à Argentina é a primeira na agenda dos recém-empossados presidentes brasileiros, como meio de assinalar seu compromisso com o Mercosul e o país vizinho. No governo Bolsonaro, contudo, esse destino foi trocado por três países com o signo da extrema direita: Estados Unidos, Israel e Chile (embora este seja menos radical que os anteriores).
Em Buenos Aires, Araújo garantiu que Bolsonaro planeja visitar a Argentina antes da realização da reunião cúpula do Mercosul, marcada para em julho na cidade de Santa Fé. O Brasil deverá assumir a presidência temporária do bloco sul-americano.
“Tenho uma proposta de data para uma visita do presidente Bolsonaro, que, se for aceita pelo presidente Mauricio Macri, ocorreria muito em breve”, afirmou o ministro ontem, antes de se encontrar com o líder argentino.
Nesta quarta, após reunião com os ministros argentinos Jorge Faurie, das Relações Exteriores, e Dante Sica, da Produção e Trabalho, Ernesto Araújo disse que Brasil e Argentina têm ideias muito convergentes sobre o presente e o futuro do Mercosul.
“Avançamos na percepção da importância de que o Mercosul funcione como um bloco comercial eficiente e que seja também uma plataforma eficiente de negociação com países terceiros. Avançamos muito na identificação do que falta, no nosso ponto de vista, para fechar uma negociação entre Mercosul e União Europeia”, disse.
Há ressalvas dos dois lados, porém, sobre a visita de Bolsonaro à Argentina. Em campanha para a reeleição, Macri pode ver sua imagem ser prejudicada em alguns importantes setores do seu eleitorado se receber o presidente brasileiro.
Jair Bolsonaro fez elogios públicos ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos expoentes da repressão e reconhecido torturador do período da ditadura militar (1964-1985). O presidente também já disse que não houve golpe militar em 1964. Esses fatos foram registrados com destaque pela imprensa argentina.
Araújo também chegou a negar o historicamente reconhecido golpe militar e ressaltou que o ocorrido “foi necessário para que o Brasil não se tornasse uma ditadura”, em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara dos Deputados no final de março.
A Argentina, assim como o Brasil, viveu um período difícil de ditadura militar entre 1976 e 1983. O regime deixou 30 mil mortos e desaparecidos, e há relatos de torturas, extermínios e de bebês sequestrados pela repressão e entregues ilegalmente a outras famílias.
A maior parte da opinião pública rejeita a ditadura militar do país, segundo pesquisas publicadas sobre o tema. Todo 24 de março, dia que marca o golpe que deu início ao regime militar no país em 1976, os argentinos saem às ruas para repudiar o período.
Para Bolsonaro, uma visita à Argentina não será fácil. Durante a viagem, o presidente pode ser alvo de manifestações populares, além de sofrer duras críticas da imprensa e de organizações de direitos humanos.
Araújo, contudo, afirmou que a visita deve acontecer em breve, mas que ainda não há data marcada.
(Com Agência Brasil e EFE)