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Eleição nos EUA: mais do que Biden, epidemia é maior adversário de Trump

Atraso e equívocos no combate ao coronavírus e a seus impactos na economia desconstroem imagem de liderança do presidente americano

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 8 abr 2020, 15h15 - Publicado em 8 abr 2020, 15h03
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  • A retirada o senador Bernie Sanders da corrida democrata pela Casa Branca nesta quarta-feira 8 abre o caminho para Joe Biden iniciar para valer sua campanha contra a reeleição de Donald Trump, quatro meses antes da convenção do partido que o consagrará como seu candidato. Bem mais do que os milhões de dólares em propaganda e na mobilização da oposição contra sua permanência no poder, Trump tem diante de si um inimigo bem mais forte, contra o qual titubeou em guerrear até o mês passado: a epidemia de coronavírus nos Estados Unidos.

    A eleição americana ainda está agendada para 3 de novembro. Até lá, Trump dificilmente se esquivará de ser cobrado pelas vidas perdidas para a Covid-19 e pela inevitável recessão na qual o país mergulhará, segundo projeções dos economistas. Em novembro passado, quando Sanders ingressou na campanha democrata como uma das principais vozes à esquerda, inclusive com a bandeira da criação de um sistema público de saúde, Trump se valia especialmente das projeções de crescimento econômico como principal baluarte de sua reeleição. O coronavírus mudou o panorama, e o próprio presidente americano contribuiu para a disseminação de sua imagem como autoridade falha na condução da epidemia e de seu impacto na economia real.

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    As marcas de sua trajetória no enfrentamento da crise de saúde pública nos Estados Unidos já são munições para a campanha de Biden, que montou no porão de sua casa em  Wilmington, no estado de Delaware, um estúdio de onde dispara críticas à condução de seu adversário. Quando a primeira morte por coronavírus ocorreu na coste oeste americana, no final de janeiro, Trump declarou ter “tudo sob controle”. “Tudo vai ficar bem”, afirmou. Não ficou.

    A epidemia se alastrou por todos os 50 estados e por territórios além-mar e deslocou seu epicentro para Nova York, na costa leste, com uma rapidez impressionante. Entre brigas públicas com os governadores, que se mobilizaram para impor o isolamento social contra a vontade da Casa Branca e desesperadamente pediam recursos e ações de Washington até mesmo para conseguir máscaras e respiradores artificiais, e debates com especialistas que clamavam por uma postura mais responsável diante da catástrofe prenunciada, Trump conseguiu demolir sua imagem de liderança – senão em seu eleitorado cativo e leal, pelo menos entre formadores de opinião.

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    Ainda trava a epidemia como uma “gripe comum” no dinal mês passado, quando cedeu às projeções de seu principal conselheiro na área de saúde, o médico infectologista Anthony Fauci, de que o coronavírus causaria a morte de 100.000 a 200.000 pessoas nos Estados Unidos. Apenas em 29 de março Trump desistiu da reabertura dos negócios e da volta da circulação de pessoas pelas ruas até a Páscoa e determinou a preservação do isolamento até 30 de abril. Dois dias depois, o total de mortos pela Covid-19 já ultrapassava o saldo de vítimas do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Mais de 3.400 pessoas haviam sido sepultadas pela epidemia.

    A demora na negociação da Casa Branca de um pacote econômico para impedir uma crise tão grave como as de 1929 e de 2008 igualmente não ajudou o candidato à reeleição, que inicialmente pedira a liberação de orçamento extraordinário de apenas 2,5 bilhões de dólares ao Congresso para o combate à epidemia. Foi a oposição democrata quem puxou a corda por cifras muito mais significativas e quem permitiu, ao final, balizou a aprovação de um pacote inédito de 2 trilhões de dólares para salvaguardar a economia, ajudar os hospitais e dar assistência aos milhões de americanos que, já naquele momento, perdiam seus empregos. 

    Os saldos registrados até esta quarta-feira, quando Biden se viu em campo aberto para lutar pela Casa Branca, recaem todos sobre as costas de Trump. Graças a suas hesitações, os Estados Unidos lideram o ranking de contaminações pelo coronavírus no mundo, com 401.166 casos, segundo levantamento em tempo real da Johns Hopkins University, de Washington – mais do que a soma das registradas na Itália, França e Espanha. O país contamiliza 12.911 mortes, conforme o jornal The Washington Post, quase quatro vezes o total da China, onde a epidemia surgiu.

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    Em março, 701.000 trabalhadores haviam perdido seus postos – a maior incidência desde a recessão de 2007-2009 -, e a expectativa é de o desemprego atinjamais de 14 milhões pessoas ainda neste ano, segundo o The Wall Street Journal. O economista-chefe da Oxford Economics para Estados Unidos, Greg Daco, previu no final de março quedas de 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB) americano no primeiro trimestre e de 12% para o período de abril a junho. Mas há projeções ainda mais cáusticas, como a de recuo de 24% na atividade no segundo trimestre, feita pelo banco Goldman Sachs, segundo o jornal The New York Times.

    A reeleição de um líder em meio a uma recessão é algo raro na história de qualquer país. Dilma Rousseff, em 2014, terá sido uma das exceções, assim como Barack Obama, em 2012, quando a economia americana ainda patinava depois da crise global de 2008. O jogo não se mostra totalmente perdido para Trump justamente por seu discurso ao gosto de boa parte dos republicanos e também pela inevitável dificuldade de Biden de arrastar para suas fileiras moderadas os órfãos de Sanders – os mesmos que, em 2016, ao se distanciarem das urnas, infligiram perdas à então candidata democrata Hillary Clinton.

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    A média das pesquisas realizadas entre 37 de março e 7 de abril sobre o desempenho de Trump na Casa Branca, calculada pelo portal Real Clear Politics, aponta sua desaprovação por 49,9% dos americanos. O porcentual, no entanto, é bem menor do que os 52,8% observados em 16 de março e indica a melhoria de sua imagem desde que resolveu encarar de frente o combate ao coronavírus e ao declínio dos indicadores econômicos. Ainda há 45,7% dos cidadãos que o aprovam. Mas pesquisa da revista The Economist e do YouGov publicada nesta quarta-feira aponta vantagem de seis pontos porcentuais para Biden, com 48% das intenções de voto.

    Como sempre, o maior desafio dos candidatos à Casa Branca é convencer os eleitores a comparecer nas seções eleitorais. O voto universal é relegado pelo resultado no Colégio Eleitoral, mais de um mês depois da eleição. O certo é que o vencedor terá diante de si um país ainda não recuperado pela epidemia negligenciada.

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