O presidente da França, Emmanuel Macron, alegou nesta sexta-feira, 15, que diplomatas estão “literalmente mantidos como reféns na embaixada francesa” em Niamey, capital do Níger. Em visita ao departamento de Côte d’Or, na região de Borgonha-Franco-Condado, ele informou a repórteres que alimentos não estariam sendo entregues à delegação e que o embaixador Sylvain Itte estaria “comendo rações militares” por ser considerado “persona non grata” por autoridades do país.
Em julho, militares destituíram o presidente nigerense, Mohamed Bazoum, sob alegações de falta de segurança e de crise econômica no país, em meio a ataques crescentes do Estado Islâmico. Ao assumir o poder, a junta militar ordenou que Itte deixasse o país, tendo revogado seu visto e demandado a polícia local para que atuasse na sua expulsão. O embaixador, no entanto, permaneceu no cargo devido à falta de reconhecimento do governo francês da autoridade dos militares nigerenses.
Ao lado da França, organizações internacionais, como a União Africana e as Nações Unidas, condenaram o golpe militar, o sétimo do tipo em menos de três anos na África Ocidental. O regime militar, por sua vez, acusa a França de tentativas de restabelecer a presidência de Bazoum, enquanto afirma que a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), responsável por empregar fortes sanções contra o Níger após o golpe, seria controlada pelos interesses franceses, antes potência colonial do país.
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A progressiva deterioração das relações entre as nações levou à decisão do Ministério das Relações Exteriores da França, em agosto, de iniciar os processos de retirada de seus cidadãos e de outros europeus. No mesmo mês, a junta emitiu novas acusações contra as tropas de Macron, tendo supostamente registrado tentativas de Paris de violar o espaço aéreo local como forma de provocar uma desestabilização nacional e libertar “terroristas”.
A declaração, no entanto, foi veementemente negada por um funcionário do governo francês em depoimento à agência de notícias AFP. Segundo a fonte, o voo “foi autorizado e coordenado com o exército nigeriano” e “nenhum terrorista foi libertado pelas forças francesas”.
Questionado sobre planos de libertar Itte em segurança, o presidente francês reforçou o apoio à Bazoum, única “autoridade legítima”, e que “faria tudo” que foi organizado com o antigo presidente nigerense, já que estaria em contato com ele “todos os dias”. Ainda nesta terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores da França anunciou que Stephane Jullien, um empresário radicado no Níger, também havia sido detido em 8 de setembro. Ele, contudo, foi libertado nesta quinta-feira, 14, segundo um comunicado da pasta.