Raro bastião democrático no Oriente Médio, Israel vive uma das mais graves crises domésticas de sua jovem história, de 75 anos. Na segunda-feira 24, o Knesset, o Parlamento, em Jerusalém, aprovou a primeira de uma série de leis para limitar os poderes da Suprema Corte, um dos poucos sistemas de freios e contrapesos na nação. Há pelo menos trinta semanas as ruas andam agitadas com a medida impulsionada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e sua coalizão de extrema direita. Ao menos 20 000 pessoas se manifestavam com cantos de “democracia ou rebelião”. Depois da aprovação por 64 a 0, em que todos os membros da oposição abandonaram o plenário, do lado de fora a população foi recebida com canhões de água. Em apoio aos protestos, os médicos interromperam os atendimentos não emergenciais e os reservistas ameaçam faltar ao treinamento obrigatório, anátema em um país à franja de guerras. Os sindicatos consideram uma greve geral. Com a lei, o governo conservador atrai a preocupação de um aliado de sempre, alheio às cores ideológicas, os Estados Unidos. A chancelaria de Joe Biden emitiu um comunicado chamando a iniciativa de “lamentável”. Netanyahu, que foi ao Knesset direto do hospital, onde colocara um marca-passo, tem um argumento torto: o Judiciário teria concedido autoridade demais a si mesmo. Não é verdade, e cabe lembrar uma regra infalível: do bom funcionamento dos poderes é que brotam a estabilidade política e a econômica, como sempre aconteceu em Israel.
Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852