Hoje soa comum, quase banal, mas em 2005 foi uma chacoalhada e deu o que falar na torre de marfim dos especialistas em artes: a estilista Iris Apfel, então com 85 anos, foi a primeira colecionadora de moda — e não uma designer — a ter sua coleção exposta no Metropolitan Museum of Art (MET), em Nova York. Virou celebridade instantânea, em programas de televisão e páginas de revistas. Era, nas palavras da própria personagem, em tom irônico e risonho, uma “estrela geriátrica”. Influenciou muita gente, irritou outras tantas, mas nunca abriu mão do espalhafato associado ao bom gosto: óculos imensos, colares e pulseiras em profusão, suéter rosa angorá com saia de brocado chinês do século XIX, casaco feito de penas de galo com calça de camurça e todo tipo de combinação de estampas.
Nas palavras do texto de apresentação da mostra no MET, Apfel “examinava o poder das roupas e dos acessórios para afirmar o estilo acima da moda e o indivíduo acima do coletivo”. A personalidade interessante, mestra em saber escolher o que vai com o quê, apesar das diferenças, a fez decoradora da Casa Branca ao longo dos mandatos de nove presidentes, de Harry Truman a Bill Clinton. Dois dias antes de morrer, ela publicou em sua conta no Instagram uma foto celebrando os 102 anos de idade — “102 e meio”, a rigor. Iris morreu em 1º de março, em Palm Beach, na Flórida.
O resto é silêncio
O que seria dos seres ficcionais e futuristas de algumas das grandes franquias da história do cinema se a eles não pudessem ser coladas as vozes de seres humanos? Talvez mergulhassem no anonimato do que é inverossímil. Salvou-os da desgraça o ator e dublador americano Mark Dodson. Em Star Wars: Episódio VI — O Retorno de Jedi (1983), ele fez o repulsivo Crumb, um capanga de Jabba the Hut que falava em guinchos e gargalhadas. Em 2022, retomou o papel no videogame LEGO Star Wars: The Skywalker Saga. Depois, nos dois filmes da franquia Gremlins, de 1984 e 1990, ele tornou famosa a voz do bichinho fofo que se multiplicava em feras caso seus donos não seguissem regras estritas. Dodson morreu em 2 de março, aos 64 anos.
Cinema fraternal
Inspirados pelo neorrealismo italiano de Roberto Rossellini e Vittorio De Sica, os irmãos Vittorio e Paolo Taviani misturaram política e amor, temas atrelados ao cotidiano e os labirintos da paixão, para fazer alguns dos mais celebrados filmes dos anos 1970 e 1980: Pai, Patrão (1977), Palma de Ouro em Cannes, A Noite de São Lourenço (1982) e Kaos (1984). Depois da morte do irmão, em 2018, Paolo dirigiu um único filme, Leonora, Adeus, vencedor do Prêmio da Crítica no Festival de Berlim em 2022. Recentemente se preparava para filmar Canto delle Meduse, que sairia do papel a partir de abril. Paolo morreu em 29 de fevereiro, aos 92 anos, em Roma, de causas não reveladas pela família.
Publicado em VEJA de 8 de março de 2024, edição nº 2883