Crianças doentes deixam Gaza para tratamentos pela primeira vez em meses
Grupo de 19 crianças, entre elas cinco com câncer, seguiu para território israelense antes de viajar ao Egito e outros países
Um grupo de 19 crianças severamente doentes foi autorizado, nesta quinta-feira 27, a deixar Gaza viajando por Kerem Shalom, cidade de Israel. Esta é a primeira vez que ocorre uma saída de palestinos por questões médicas desde maio, quando tropas israelenses invadiram Rafah, localizada perto da fronteira com Egito e onde está uma das únicas passagem para o exterior.
O grupo deixou o Hospital Nasser, na cidade de Khanis Younis, e cinco das crianças autorizadas a sair da Faixa de Gaza estão com câncer. Todas estavam acompanhadas por familiares e ao chegarem a Israel vão viajar para o Egito e outros países para tratamento médico. Segundo o órgão militar israelense responsável pelos assuntos palestinos, a ida dos menores palestinos foi realizada em coordenação com a Organização Mundial de Saúde (OMS), além de autoridades dos Estados Unidos e do Egito.
Apesar da autorização de saída dessas crianças ser um passo, a diretora regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Hanan Balkhy, observou que ainda há mais de 10 mil pacientes que precisam de cuidados médicos em Gaza. De acordo com ela, desde 7 de outubro, data do ataque do grupo militante palestino Hamas a Israel, que desencadeou a guerra atual, 13.872 pessoas pediram para sair do território por questões de saúde, mas apenas 35% tiveram as solicitações aceitas.
“Corredores de evacuação médica devem ser estabelecidos urgentemente para a passagem organizada, segura e oportuna de pacientes gravemente doentes de Gaza por todas as rotas possíveis”, escreveu Balkhy no X, antigo Twitter.
O Egito se recusou a reabrir a fronteira com Rafah, a única saída para os civis que são afetados pela guerra. O trajeto foi um dos mais importantes meios de fuga, desde o início da guerra até a invasão a cidade palestina mais de um milhão de pessoas fugiram pela passagem humanitária, informou a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA)
Os nove meses de conflito devastaram Gaza, com diversas instalações médicas destruídas pela guerra. O encerramento de passagem de Rafah não só afetou o trajeto de pessoas, mas também prejudicou as entregas de alimentos e medicamentos. Segundo um relatório das Nações Unidas, um quinto dos habitantes da Faixa de Gaza ainda corre risco de fome.
Face cruel da guerra
Entre as 35 mil pessoas que morreram em Gaza desde o início da guerra entre Hamas e Israel, cerca de 14 mil eram crianças. Os níveis de subnutrição infantil também assustam: pelo menos 34 crianças morreram por desnutrição severa, com o número podendo ser ainda maior por conta da dificuldade de agências de ajuda humanitária em chegar a alguns locais, disse o o gabinete de comunicação social do governo em Gaza.
Segundo a agência da ONU para os palestinos, mais de 50 mil crianças necessitam de tratamento para desnutrição aguda. Além disso, de acordo com a ONG internacional Save The Children, mais de 1 milhão de crianças correm risco de fome iminente. Um outro relatório da organização sem fins lucrativos reportou que quase 21 mil crianças estão desaparecidas.
O território palestino é considerado pelas Nações Unidas o “lugar mais perigoso para uma criança viver”. Em um ataque israelense ao bairro de Shejaia, na Cidade Gaza, nesta quinta-feira, imagens obtidas pela agência de notícias Reuters mostraram mulheres, homens e crianças correndo enquanto seguram sacolas de alimentos antes da operação militar. Alguns dos homens seguravam crianças sangrando e feridas nos braços.