O número de pessoas que passam fome no mundo aumentou em 150 milhões desde o início da pandemia de Covid-19, segundo um relatório das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira, 6. O texto alerta que a crise alimentar desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia corre o risco de levar os países mais atingidos a uma crise alimentar extrema.
Globalmente, o número que sofre de desnutrição crônica subiu para 828 milhões no ano passado, um aumento de cerca de 46 milhões em relação ao ano anterior e três vezes maior que em 2019, antes da pandemia.
Com o preço do combustível, alimentos básicos e fertilizantes subindo desde a invasão da Ucrânia, no entanto, esse total deve aumentar ainda mais no próximo ano – um cenário que pode levar alguns dos mais pobres do mundo à fome, a forma mais extrema de privação alimentar.
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“Existe um perigo real de que esses números subam ainda mais nos próximos meses”, disse David Beasley, diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas.
Para declarar situação de fome, três coisas devem acontecer: 1) pelo menos 20% das famílias em uma determinada área enfrentam escassez extrema de alimentos com capacidade limitada de lidar com a situação; 2) mais de 30% das crianças sofrem de desnutrição aguda; 3) a fome causa mais de duas mortes por dia para cada 10.000 pessoas.
“O resultado será a desestabilização global, fome e migração em massa em uma escala sem precedentes”, alertou Beasley. “Temos que agir hoje para evitar essa catástrofe iminente.”
O relatório estima que entre 702 milhões e 828 milhões passaram fome no mundo em 2021. O valor máximo equivaleria a cerca de 10,5% da população mundial.
Estima-se que 45 milhões de crianças com menos de cinco anos sofriam de emaciação, a forma mais mortal de desnutrição, o que aumenta o risco de morte das crianças em até 12 vezes. Cerca de 149 milhões de crianças menores de cinco anos tiveram crescimento e desenvolvimento atrofiados devido à falta crônica de nutrientes essenciais.
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Segundo projeções, a desnutrição crônica deve atingir quase 670 milhões de pessoas em 2030 – número semelhante ao de 2015, quando as Nações Unidas prometeram erradicar a fome até 2030 como parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Ou seja, os esforços dos últimos 15 anos será virtualmente eliminado.
Se a crise na Ucrânia serviu para algo, foi para chamar a atenção às vulnerabilidades do sistema alimentar global. Especialistas apontam que a melhor resposta é o investimento na resiliência de produtores locais – e não simplesmente aumentar o fornecimento de ajuda alimentar internacional.
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A ferramenta usada pelas Nações Unidas para medir a insegurança alimentar é a classificação integrada da fase de segurança alimentar (IPC), que define “fome” como uma privação extrema de alimentos. A última crise oficialmente declarada como “fome” foi em algumas áreas do Sudão do Sul em 2017. Antes disso, estima-se que uma fome na Somália tenha matado quase 260.000 pessoas entre 2010 e 2012.