O Vaticano apresentou nesta sexta-feira, 17, novas regras que restringem quais fenômenos sobrenaturais podem ser qualificados de “milagres“, na tentativa de diminuir a ocorrência de notícias falsas e golpes.
O objetivo é avaliar mais rigorosamente a veracidade de relatos sobre aparições da Virgem Maria, estátuas de santo derramando lágrimas e curas realizadas por relíquias sagradas. Como histórias como essas são frequentemente utilizadas para explorar fiéis e obter lucro ou poder, o Dicastério para a Doutrina da Fé atualizou o documento “Normas para Proceder no Discernimento de Supostos Fenômenos Sobrenaturais”.
O novo texto exige que os bispos recebam a aprovação do Vaticano antes de decidirem sobre a autenticidade de supostos eventos sobrenaturais. A última versão do documento, de 1978, foi considerada “inadequada” para os dias de hoje.
“Hoje chegamos à convicção de que estas situações complicadas, que causam confusão entre os fiéis, devem ser sempre evitadas”, afirmou o responsável pelo Dicastério, Víctor Manuel Fernández.
Segundo ele, a decisão “não tem a intenção de controlar ou (menos ainda) sufocar a fé”, mas busca evitar “a possibilidade de religiosos serem enganados por um evento que é atribuído a uma iniciativa divina, mas é apenas produto da imaginação de alguém, desejo de novidade, tendência a fabricar falsidades (mitomania) ou inclinação para mentir”.
Igreja em tempos de TikTok
A atualização das normas também foi impulsionada pela preocupação com a rápida circulação de histórias sobre supostos milagres e fenômenos sobrenaturais nas redes sociais. O documento afirma que o aumento desses relatos provoca “danos à unidade da Igreja” e pode “causar escândalos e minar a credibilidade” da instituição de mais de 2 mil anos.
Os bispos ainda podem emitir cinco decisões em relação a fenômenos sobrenaturais, incluindo rejeitar o evento como sobrenatural ou até mesmo proibir a adoração de alguns fenômenos.
As promessas de milagres devido a suposta aparição da Virgem Maria em Lourdes, na França, e em Fátima, em Portugal, atraem milhões de pessoas e transformaram essas cidades em destinos de peregrinação populares e lucrativos.