O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aprovou nesta terça-feira, 26, um cessar-fogo com a milícia libanesa Hezbollah. Mediada por Estados Unidos e França, a trégua acontece pouco mais de dois meses após escalada da violência no Líbano, impulsionada por uma série de explosões de pagers e walkie-talkies pela Inteligência israelense. Foi estopim do clima de hostilidade na região, ameaçando uma guerra total.
Espera-se que o cessar-fogo entre em vigor nesta quarta-feira, 27, após uma reunião do governo libanês para oficializar o endosso à proposta. A declaração exige que os soldados israelenses se retirem do sul do Líbano, um reduto do Hezbollah, e que o exército libanês se posicione na região, num prazo de 60 dias. Com isso, a milícia abandonaria a área da fronteira com Israel ao sul do Rio Litani.
O exército do Líbano cumprirá um papel central no acordo: será o único corpo armado no sul e passará a controlar, na teoria, todas as atividades armadas do país. A implementação da trégua, por sua vez, será monitorada pelo governo libanês e por uma força-tarefa internacional, com soldados de paz franceses, sob comando dos EUA.
O presidente americano, Joe Biden, apresentou mais detalhes do plano em declaração nesta terça-feira. Segundo ele, a trégua será efetiva a partir das 4h da manhã no horário de Israel (23h desta terça-feira no horário de Brasília). Biden enfatizou que civis de ambos os lados “logo poderão retornar com segurança às suas comunidades e começar a reconstruir suas casas, suas escolas, suas fazendas, seus negócios e suas próprias vidas”.
“Isso foi projetado para ser uma cessação permanente das hostilidades”, ele acrescentou. “Ao que resta do Hezbollah e de outras organizações terroristas não será permitido, enfatizo, não será permitido, ameaçar a segurança de Israel novamente.”
Com isso, a expectativa é de que o Hezbollah perca o controle militar da região e não consiga recuperar o vigor mesmo após o fim do acordo. Mas, caso o cenário se concretize, o grupo libanês pode mudar sua área de influência.
“O Hezbollah pode ser compelido a mudar seu foco para dentro, buscando garantir sua relevância dentro do estado libanês em vez de por meio de operações militares externas, posicionando-se assim para um papel na formação do futuro cenário político do Líbano”, disse Imad Salamey, professor de ciência política na Universidade Libanesa Americana, à emissora árabe Al Jazzera.
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Ceticismo dos moradores
A pausa também permitiria que os moradores do sul do Líbano retornem às suas casas — isso se as residências tiverem permanecido de pé em meio aos intensos bombardeios israelenses, responsáveis pela massiva destruição na área. O ceticismo toma conta dos habitantes do norte de Israel, que pensam duas vezes antes de retornar aos seus lares pela descrença de que o cessar-fogo será respeitado por completo, de acordo com a Al Jazeera.
“Sem um acordo político abrangente envolvendo o Irã (que apoia o Hezbollah e o Hamas), o cessar-fogo corre o risco de ser uma medida temporária”, acrescentou Salamey.
No anúncio da trégua, Netanyahu já tratou sobre o possível descumprimento do trato. Ele advertiu que as Forças de Defesa de Israel (FDI) “responderão com força” a qualquer violação do pacto pela milícia libanesa e que “a duração do cessar-fogo dependerá do que acontecer no Líbano”. A declaração parece ter sido uma espécie de aceno à sua coalizão governista, cujos membros ultrarreligiosos de extrema direita eram contra o fim do conflito até que o Hezbollah fosse eliminado.
“Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se rearmar, atacaremos”, ele prometeu. “Se tentar reconstruir a infraestrutura terrorista perto da fronteira, atacaremos. Se disparar um foguete, se cavar um túnel, se trouxer um caminhão com mísseis, atacaremos. A cada violação, responderemos com força”, completou.